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O conceito de Biótopo é inúmeras vezes ignorado pelos aquariofilistas que mantêm os seus aquários sustentados na beleza e até raridade de algumas espécies. Na realidade, a noção deste conceito é imprescindível à correcta manutenção das espécies que constituem esses aquários e, simultaneamente, ao apuramento deste hobbie.

 

Um biótopo (palavra que deriva etimologicamente do grego bios = vida + topo = lugar), constitui de uma forma genérica um determinado habitat, no fundo não é mais do que uma região onde os factores físicos e químicos são primordiais para o bem-estar da comunidade que compõe essa área geográfica. Certo é que, muita gente tem exemplares nos seus aquários que não se coadunam com o suposto biótopo que inicialmente se escolhe e que ao longo dos tempos se vão aguentando e provam que de facto são capazes de sobreviver nesse meio. Na realidade é mesmo disso que se trata, apenas SOBREVIVEM e tentam a todo o custo adaptar-se às novas condições impostas. Ao longo de milhares de anos as espécies piscícolas, à semelhança da espécie humana e de todas as outras espécies do planeta, sofreram sucessivas adaptações climáticas, morfológicas, geográficas e sociais que permitiram uma evolução gradual até se transformarem naquilo que hoje são (e continuam a evoluir, de acordo com as condições que sucessivamente se alteram de dia para dia). No seio destas transformações, uma das mais importantes é de facto a morfológica, definindo as capacidades de uma espécie perante determinados factores, levando a que, tudo o que estiver para além dessas mesmas capacidades e incutido de uma forma brusca produzirá um choque com consequências danosas ao organismo.

 

Um dos factores que mais identifica esta situação é, sem margem para dúvidas, o PH e a dureza da água desses aquários. O factor PH identifica o nível de acidez ou alcalinidade da água, sendo que a escala – que vai de 0 a 14 – é construída em base logarítmica. Isso significa dizer que, se o índice de pH da água cair, por exemplo, em uma unidade na escala para o lado ácido, significa um aumento em 10x dos íons dissolvidos na água. Uma queda em duas unidades, significam 100x mais íons, e assim por diante.

 

Posto isto, dá claramente para termos uma ideia do efeito devastador dessa queda sobre os peixes. Porque é tão importante a medição do PH da água de um aquário? Precisamente porque, entre outras coisas, ele tem influência directa no organismo dos peixes no que respeita à absorção do oxigénio e à capacidade de transporte pelo sangue, além da troca gasosa na bexiga-natatória e nas guelras, ou seja, quedas muito drásticas do PH no sangue originam grandes problemas na sua circulação podendo inclusive causar um colapso e a consequente morte dos animais.

 

Desta forma, as oscilações do PH dependem muito das espécies, da sua adaptabilidade natural à água do aquário e até da troca de água que ocorre no metabolismo dos animais. Muitas vezes os peixes apresentam alguns sintomas que podem passar despercebidos aos nossos olhos mas que favorecem o diagnóstico da chamada doença “ácida” ou da doença da "alcalinidade".

 

Alguns dos sintomas que assentam nesses pressupostos passam essencialmente por “…uma atitude inquieta, respiração difícil, tiros pelo aquário, saltos, posição oblíqua (com a cabeça na direcção da superfície), cambalear pelo aquário, aparente asfixia até à efectiva morte por asfixia em função da destruição do tecido das guelras.” A morfologia os animais sujeitos a tais condições é igualmente notável, denotando-se um muco que cobre de forma excessiva o corpo e as guelras dos peixes, levando à asfixia e ao colapso epitelial. Refira-se ainda que, no caso da “doença alcalina” as guelras e nadadeiras ficam completamente corroídas.

 

Muito comummente encontramos espécies tipificadas em PH ácido nos aquários de Ciclídeos Africanos e que são sujeitas a uma alcalinidade extrema sob pena das consequências acima referenciadas. Na sua maioria, tratam-se de peixes de fundo encontrados como a melhor solução para o combate de algas nos aquários e simultaneamente pela beleza que muitos desses exemplares apresentam. Desde alguns Hypostomus plecostomus, Baryancistrus, entre outros, encontramos variadas espécies que todos os dias lutam em vão por uma qualidade de vida que só passados milhares de anos, com uma anatomia orgânica já bem diferente e adaptada a essas condições, conseguiriam alcançar.

 

O intuito deste artigo não passa de forma alguma por demover essas espécies desses aquários, mas apenas elucidar de uma forma mais exacta sobre esta questão tão importante dos parâmetros de água num aquário. Acredito sinceramente que muitas espécies sobrevivam durante muito tempo, mas sabemos contudo, e agora mais pormenorizadamente, de que forma sobrevivem e como todos os dias se mantêm agarradas à vidinha...

Marco D'Oliveira Monteiro

APC #195

 

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