Recommended Posts

Publicado (editado)

Há cerca de 35 milhões de anos, com a separação das placas tectónicas africanas e arábicas surgiu o Grande Vale do Rift (Great Rift Valley), um complexo ou sistema de falhas tectónicas com uma extensão aproximada de 5000 km. Os consequentes fenómenos sísmicos e vulcânicos provenientes deste tipo de transformação resultaram em inúmeras fendas no solo, modificando ao longo dos tempos a crosta terrestre. No seio destas modificações, origina-se então na parte meridional de África um dos maiores lagos africanos, o Lago Malawi.

1875094752_60ccb1cf39.jpg

Considerado o terceiro maior lago do continente africano, o Lago Malawi (ou Nyasa) é rodeado por três países, (Malawi, Tanzânia e Moçambique) e caracteriza-se por cerca de 245 km de linha costeira, 600 km de comprimento, uma largura máxima de 87 km e 700 metros de profundidade, utilizados para navegação, pesca profissional, mergulho, entre outras actividades.
A sua biogeografia específica permitiu que em Novembro de 1980 fosse proclamado o Parque Nacional do Lago Malawi, factor altamente relevante para a sua protecção e conservação, albergando a maior quantidade de espécies de ciclídeos a nível mundial. Em média, cerca de 500 a 1000 espécies e 49 géneros da família Cichlidae vivem neste grande lago e encontram-se divididos em duas categorias: Mbunas e Não-Mbunas (incluindo-se nesta os Haplochromis e os Peacoks).

1875094714_bbe4d5d398.jpg
Likoma

O termo Mbuna (em linguagem nativa do Malawi) é uma palavra em chitumbuku e pode ser traduzida como "peixe das pedras". Na realidade, tal termo deriva do facto de estes ciclídeos coabitarem preferencialmente as zonas rochosas do lago, ao nível da costa litoral (zonas de maior formação rochosa no lago). Ao mesmo tempo que as formações rochosas conferem abrigo e permitem a definição de território entre mbunas, são propensas também à criação de algas e microorganismos, constituindo a principal fonte de alimentação para os mbunas.
De personalidade forte e temperamento difícil, os mbunas destacam-se pelas suas cores vivas e por um comportamento deveras interessante. Estimados em mais de 200 espécies, destacam-se os principais géneros endémicos do lago: Cyathochromis, Cynotilapia, Gephyrochromis, Genyochromis, Iodotropheus, Labidochromis, Labeotropheus, Melanochromis, Petrotilapia e Pseudotropheus, Maylandia e Tropheops.


Pseudotropheus elongatus yellow tail
1874749021_e9497c9a37_m.jpg

Labeotropheus Trewavasae Zimbawe Rock
1874749013_c7dd4127fa_m.jpg

1874749011_920763be4f_m.jpg
Cynotilapia Afra Cobwé

1874749017_c8544172b4_m.jpg
Labidochromis Caeruleus Lion's Cove


A reprodução dos mbunas elevam-nos à categoria de excelentes progenitores, tanto mais que conseguem proteger as suas proles com muita astúcia atingindo uma enorme taxa de sucesso na proliferação das suas espécies. Através da incubação bucal, todos eles se reproduzem da mesma forma, ou seja, na "posição T", alternada entre macho e fêmea. A fêmea, após a recolha dos ovos fertilizados pelo macho, tem a árdua tarefa de incubá-los durante cerca de 3 semanas. Posteriormente, os alevins saem da boca da mãe e estão prontos para enfrentar o grande lago, atingindo a maturidade sexual por volta dos 7 meses.

1875439607_b05de0afa0.jpg
Pseudotropheus perspicax (fêmea a incubar)

Fora das grandes formações rochosas do lago, existem outras zonas substancialmente arenosas, onde encontramos os Não-Mbunas, mormente os Haplochromis (Haps) e os Peacoks. As suas cores deslumbrantes, que variam do azul ao vermelho (normalmente apenas os machos apresentam estas tonalidades), tornam estas espécies apetecíveis aos aquariofilistas. No entanto, é importante referir que grande parte dos Haps são predadores e atingem tamanhos consideráveis que podem tornar complicada a sua manutenção em cativeiro.

1876040866_c441706fa7_m.jpg
Aulonocara Baenschi (Peacoks)

1876040852_ba0e004792_m.jpg
Cyrtocara Moorii (Haps)

Analisada a principal biologia do lago, é importante entendermos a composição química da água do Lago Malawi. Na verdade, os parâmetros de água são muito específicos e divergem em razão do nível de dióxido de carbono dissolvido. Desta feita, o PH do Lago Malawi varia de 7.5 a 8.5º, sendo que o seu valor será tanto mais alto quanto menor for o dióxido de carbono dissolvido. Exactamente por isso, nas zonas mais profundas do lago, onde não existe praticamente turbulência, o PH é relativamente menor. Variável é também a sua dureza total, situando-se entre os 4 e os 6 dH, enquanto que o seu KH (dureza carbonatada) encontra-se entre os 6 e os 8 dH.

Inserido num clima tropical e com um índice pluviométrico significativo, a temperatura à superfície do lago pode variar consoante a estação do ano, situando-se entre os 23º e os 28ºC. A cristalinidade das suas águas depende igualmente da variação de temperatura e simultaneamente das chuvas que se fazem sentir no lago, alcançando uma visibilidade média de 13 a 23 metros. Já a incidência solar ronda as 2,5 a 3 horas diárias.

1875094728_6ea74874a4.jpg
Otter

Entendermos a química da água do Lago Malawi é um passo importante para o sucesso na manutenção dos ciclídeos africanos nos nossos aquários. Na verdade, o estudo de um biótopo permitirá recriá-lo com as condições muito próximas da origem e, desta forma, contribuir para uma qualidade de vida dos exemplares que mantemos. Embora a flora do lago não seja muito diversa, encontramos algumas Macrophytes emersas, nomeadamente as Phragmites Mauritianus, para além de algumas concentrações de clorofila que variam em função da profundidade do lago. Contudo, nos nossos aquários são comummente utilizadas as Valisnérias que na realidade são também parte constituinte da flora do lago.

1875094626_2647e880fd.jpg
Chiloelo

As formações rochosas que tantas vezes tentamos recriar divergem um pouco daquelas que encontramos no fundo do lago. Na verdade, os grandes rochedos graníticos que caracterizam o seu fundo nem sempre permitem uma recriação idêntica ao biótopo de origem. A par destes rochedos, o fundo está coberto de seixos arredondados, também eles graníticos, alternando com zonas mais arenosas onde também é possível encontrarmos alguns mbunas mais expansivos.

1875252845_7a5a2c2e3a.jpg

Video Meponda - Lago Malawi


Bibliografia
Ad Konings, Malawi Cichlids in Their Natural Habitat, Julho 2001
Eccles, D.H., An outline of the physical limnology of Lake Malawi (Lake Nyasa), Limnol, 1974
Jos Snoeks and Ad Konings, The Cichlid Diversity of Lake Malawi/Nyasa/Niassa: Identification, Distribution and Taxonomy, Novembro 2004

Fotografias retiradas do CD: Malawi Cichlids (AD Konings).
Video do membro Miguel Figueiredo

Editado por Vera Santos
  • Votar + 3

Marco D'Oliveira Monteiro

APC #195

 

Meu Blog