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PARTE III

 

Os Parâmetros da Água

 

 

A Temperatura

 

A temperatura é um dos parâmetros mais criticos em sistemas de recife. Se todos os parâmetros estiverem em condições e dentro de valores aceitáveis e a temperatura muito baixa ou alta o recife não sobreviverá. A temperatura em aquários de recife deverá estar entre 21 e 27ºC mas a temperatura ideal deverá rondar os 24ºC. Com este valor base se existirem flutuações durante o dia de 1 ou 2 graus não teremos problemas.

 

O maior problema normalmente é uma temperatura muito elevada, causada pelo acumular de calor feito pela iluminação e todos os aparelhos ligados em contacto com a água, como bombas de circulação, o escumador de proteínas, etc,.

 

Grandes flutuações em termos de temperatura são muito maus, especialmente para os peixes, uma vez que estão normalmente associadas ao aparecimento do ictío de água salgada.

 

Devemos assegurar que a parte de cima do aquário tem ventilação suficiente, ou por suspensão da iluminação ou mesmo pela colocação de ventoínhas. Podemos também desenhar a sump por forma a que esta seja aberta ou que tenha uma área suficiente para a refrigeração por evaporação.

 

A solução mais dispendiosa, no entanto a mais eficaz é sem duvida a utilização de um refrigerador. Hoje em dia já há muitas marcas para todo o tipo de aquários, dos mais pequenos aos maiores. Uma vez que este tipo de aparelhos, provocam muito calor, se possível colocá-los longe do aquário onde o calor não seja mais um factor no aquecimento deste, provocando assim um ciclo vicioso.

 

No meu caso a temperatura da água do aquário ronda os 26ºC, e esta é alcançada graças ao quase constante funcionamento do refrigerador. O aquecimento provocado pelas lampadas de HQI´s, pelas bombas dentro do aquário e da sump, provocariam uma subida de temperatura que poderia atingir os 32ºC.

 

 

O pH

 

O pH da água do aquário é a medida da concentração de iões de hidrogénio (H+). A concentração de iões de hidróxido (OH-) é inversamente proporcional. Quando a concentração de iões de hidrogénio é maior a solução é ácida , se os iões de hidróxido estão em maior número, então dizemos que a solução é alcalina ou básica. A escala que vai de 1 a 14 é logaritmica e portanto cada graduação representa um factor dez. Por exemplo, uma solução com um valor de pH de 9 é 10 vezes mais básica do que uma solução com um valor de pH 8. Pela mesma razão um valor de pH 9 é 100 vezes mais básico que um valor de pH 7.

 

A água do mar é uma solução básica com valores de pH entre 8 e 8.25, mas com a elevada taxa de fotosintese e respiração poderá baixar até valores abaixo dos 8 durante a noite e subir acima dos 8.4 durante o dia. Nos aquário de recife o pH não deverá cair abaixo dos 8.2 e subir acima dos 8.5. Eu verifico no meu aquário, uma variação entre 8.2 à noite e 8.4 ao final do dia. Esta variação poderá promover a calcificação, sendo portanto benéfica. O pH ideal para a calcificação é 8.4, pois abaixo deste valor a precipitação do carbonato de cálcio pelos organismos, e um pH muito elevado tende a baixar a concentração dos iões de cálcio. Graus de dureza carbonatada elevados na água do aquário promovem a estabilidade do pH.

 

Os ácidos orgânicos e os fosfatos têm tendência a acumular nestes sistemas fechados e a formação de ácido nitrico, como resultado da nitrificação baixa a alcalinidade ou capacidade tampão da água (como vamos ver no ponto seguinte), ou seja a sua capacidade de manter valores de pH estáveis. Os ácidos retiram da água os bicarbonatos e carbonato de cálcio enquento que os fosfatos baixa a alcalinidade pela precipitação de soluções com cálcio e magnésio. Esta é uma das principais razões pela descida do pH em aquários de recife.

 

 

A Alcalinidade

 

Este é um termo um pouco confuso, mas básicamente é a capacidade de uma solução de tamponar as variações de pH. Assim, uma alcalinidade elevada promove poucas flutuações no valor do pH e uma baixa alcalinidade tem um efeito contrário. O termo dureza carbonatada ou KH é muitas vezes utilizado para referir a alcalinidade. Existem duas escalas de medição da alcalinidade, os miliequivalentes por litro (meq/L) e a mais comum, que eu também uso que são os graus de dureza carbonatada (dKH) . Para converter meq/L em dKH basta multiplicar por 2.8.

 

A água do mar tem uma alcalinidade entre 6 e 7 dKH, mas no aquário de recife este valor deve estar entre 7 e 10 dKH.

 

A alcalinidade pode ser mantida através da adição diária de kalkwasser (solução saturada de hidróxido de cálcio) como água de reposição, ou através da adição de soluções tampão à venda no mercado. Pessoalmente utilizo a primeira hipótese e adiciono ao meu sistema cerca de 1 litro por dia de kalkwasser. Esta adição é feita através de um sistema de gota a gota, durante a noite. Durante a noite, como vimos anteriormente, o pH tem tendência a diminuir de valor. Assim, a adição de kalkwasser que tem um pH de cerca de 12, vai fazer com que este suba um pouco, mantendo-se nos valores aceitáveis. No meu caso durante a noite o valor do pH se não adicionar kalkwasser desce até 8 e como vimos anteriormente com a adição de kalkwasser fica em 8.2.

 

 

A Salinidade

 

A salinidade ou gravidade especifica é a medida de comparação de quantidade de sal dissolvido na água em relação à água destililada. A água destilada tem um valor de salinidade de 1000 enquanto que a água do mar varia entre 1022 e 1030. A salinidade varia com o valor da temperatura e então a sua medição é sempre relativa.

 

No meu caso e a 26ºC a salinidade é de 1025, mas este poderá ser um valor elevado, segundo muitos aquariofilistas. O factor mais importante a ter em conta em relação à salinidade é a estabilidade, em qualquer valor que se escolha (dentro dos valores aceitáveis acima descritos).

 

Mudanças súbitas de valores de salinidade provocam stress nos peixes, invertebrados e bactérias. Esta mudança súbita é por vezes usada para a irradicação de algumas doenças nos peixes, como por exemplo o ictio de água salgada. Esta mudança é feita bruscamente pela adição de água doce e ao fim de alguns dias é feito um aumento progressivo para os valores iniciais.

 

 

Amónia e Nitritos

 

Os valores da amónia e dos nitritos, num aquário de recife completamente estabilizado são normalmente de zero. No meu caso os valores da amónia é efectivamente zero mas por vezes o valor dos nitritos é de 0.3 mg/l. Este valor justifica-se pela quantidade de matéria orgânica que o aquário tem e pelo facto de alimentar os peixes e corais várias vezes por semana.

 

 

Nitratos

 

O nível de nitratos num aquário equilibrado deve ser abaixo de 1,0 ppm. No entanto este nível só por si não precisa de ser tão baixo. De facto há quem diga que um nível de nitrato elevado pode beneficiar o crescimento de corais moles e duros. O problema não são os nitratos mas sim o facto destes terem um efeito negativo no controlo da alcalinidade e no pH. Ao crescerem com um elevado nível de nitrato na água, os corais retiram muito cálcio da água, enquanto que a acumulação de nitrato baixa a alcalinidade pela formação de ácido nitrico.

 

 

Fosfatos e Silicatos

 

Os fosfatos podem ser um problema em aquários de recife, especialmente se subirem acima 0.1 ppm. Um nível elevado de fosfatos irá proporcionar alimento a algas indesejáveis e irá interferir no processo de calcificação dos corais e da alga coralina.

 

Os silicatos são essenciais ao equilibrio do aquário, mas em excesso irão provocar um aumento descontrolado das diatomáceas (algas castanhas).

 

A água de reposição poderá ser uma grande fonte de fosfatos e silicatos e assim esta deverá ser tratada ou com o recurso à osmose inversa ou à desionização. No meu uso a osmose inversa, por forma a introduzir a menor concentração possível de fosfatos e silicatos na água de reposição. Devemos também evitar a adição de alimentações liquidas, pois estas também são uma grande fonte de fosfatos. A alimentação excessiva dos peixes também irá causar um aumento desmesurado do nível de fosfatos. As alimentações deverão ser feitas em pequenas quantidades, de preferência várias vezes ao dia. No meu caso a alimentação dos peixes e por vezes a dos corais (quando necessária) é feita 3 vezes por semana.

 

 

Cálcio

 

O cálcio é o principal componente da estrutura dos corais, Tridacneas, algas coralinas e muitos outros organismos que fazemos crescer nos nossos aquários. O nível de cálcio é medido em mg/L ou ppm. Na natureza este valor andará à volta de 380 a 480 mg/L, nos nossos aquários este valor deverá estar acima dos 350 e abaixo dos 500 mg/L.

 

Como já referi anteriormente, a manutenção do nível do cálcio no meu aquário é feita através da adição de kalkwasser na água de reposição. Esta adição diária mantem o nível de cálcio sempre acima dos 450 mg/L, provocando a precipitação dos fosfatos e consequentemente promovendo a calcificação pelos corais.

 

 

As Mudanças de Água

 

As mudanças de água num aquário de recife são, na minha opinião, indispensáveis. Uma rotina saudável deve ser estabelecida e seguida à risca. No meu caso, faço mudanças de água todas as semanas, mudando cerca de 10% da água todos os fins-de-semana (cerca de 30 litros). Esta mudança de água é feita com água proveniente de osmose inversa e a salinidade é garantida através da adição de um sal marinho de boa qualidade. A escolha do sal é muito importante, pois este não deverá conter fosfatos.

 

Quando retiro a água do aquário, aproveito para sinfonar detritos acumulados no fundo do aquário e nas rochas, prevenindo assim a acumulação de matéria orgânica.

 

 

A Adição de Elementos

 

Como já vimos anteriormente, muitos são os elementos essenciais ao equilibrio do aquário que são retirados pelo uso de alguns tipos de filtração. No meu caso adiciono ao aquário semanalmente iodo e estrôncio pois estes são elementos essenciais ao bom desenvolvimento de muitos corais moles como os Actinodiscos, Ricordeas e Rhodactis e também para o bom desenvolvimento e coloração das Euphylias e todos os outros corais.

 

O estrôncio é incorporado por muitos organismos para a formação dos seus esqueletos e a sua adição promove o crescimento tanto de corais como da alga coralina. Segundo algumas teorias a manutenção de espécies como as Acroporas dependem da adição regular deste elemento. Hoje em dia é possível encontrar-mos nas lojas da especialidade soluções de estrôncio, evitando assim o seu manuseamento, uma vez que é prejudicial para a saúde em grandes concentrações.

 

A adição de Iodo poderá ser feita, através de uma solução chamada solução de Lugol, mas tal como o estrôncio existem soluções já preparadas que evitam a sobredosagem. A adição de iodo promove também on crescimento de corais duros e é indispensável para a sua manutenção no aquário de recife. O uso de carvão activado é uma das formas de retirar iodo da água. Assim sempre que o carvão activado está em contacto com a água, duplico a adição de iodo.

 

A adição de elementos traço, que são retirados pelo escumador é feita mensalmente. Estes elementos são normalmente adicionados ao aquário através das mudanças de água.

 

O Molibedénio é adicionado ao meu sistema ao mesmo tempo que os elementos traço. Não tenho informações precisas sobre o seu efeito, mas algumas teorias dizem que este impede, ou pelo menos previne, a separação dos tecidos dos esqueletos em corais duros.

 

 

A Circulação da Água, Bombas e Outros Acessórios

 

A movimentação da água é por vezes um dos parâmetros que é deixado ao acaso. No entanto, este é de fulcral importância para o sucesso do nosso aquário.

 

Quando falamos de circulação de água, temos também de pensar nos organismos que temos no nosso aquário, e nas suas necessidades. Existem corais que gostam de muita movimentação e outros pura e simplesmente não gostam de movimentação, como por exemplo os Actinodiscus e as Ricordeas. Já as Xénias e as Anthelias gostam de muita movimentação, bem como a maior parte dos corais duros.

 

A circulação de água permite aos organismos obterem desta a comida necessária e livrarem-se de detritos. Permite a troca de oxigénio e de dióxido de carbono com o ambiente. Se esta movimentação não se verificar os organismos não podem realizar a respiração e fotosintese, “sofucando” nos seus próprios detritos. A movimentação de água é também essencial para a calcificação.

 

A movimentação da água cria efeitos luminosos à superfície que não permitem uma constante exposição dos organismos à iluminação, o que em alguns casos, é essencial.

 

Se tivermos uma sump a bomba de retorno deverá ser muito forte, diminuindo assim, a necessidade de bombas alternativas dentro do aquário. No meu caso a bomba de retorno é de 3500 Litros/Hora, e penso em colocar uma mais forte...

 

Podem ser usadas muitas técnicas para criar a melhor movimentação de água dentro do aquário. No meu caso utilizo um sistema de partição de fluxo criada por um tubo de PVC perfurado que divide o fluxo da bomba de retorno para uma melhor e mais uniforme distribuição da água pelo aquário.

 

Pic_88_17.jpg

 

FIG 6 - Nesta imagem conseguimos ver o tubo em PVC que distribiu a água proveniente da Sump (no momento da foto o fluxo foi desligado).

 

 

Como regra, podemos seguir a teoria de que o volume de água deve ser movimentado cerca de 20x por hora. Não basta no entanto dizer que temos 20x o volume em movimentação e achar que tudo está bem. É necessário que as correntes sejam bem pensadas e que a água seja dirigida para a superfície por forma a criar um efeito de onda que vai permitir melhores trocas com o exterior e consequente aumento do Potencial Redox. Pessoalmente uso um turnover superior pois considero que desta forma poderei impedir a instalação de algas.

 

Bombas mais pequenas, poderão ser dirigidas para certas zonas do aquário, especificamente para algum tipo ou tipos de corais.

 

É também muito importante, caso queiramos colocar uma parede de rocha viva, colocar uma bomba a fazer a circulação de água por trás desta parede, evitando assim, a estagnação de água ou a acumulação de detritos. No meu caso coloquei uma bomba junto à superfície (que pode ser vista na FIG 6) ligada a um tubo de PVC que desce até ao substrato e ao longo da parede de trás do aquário. À semelhança do tubo de retorno da Sump, também este é perfurado ao longo da parede de trás do aquário, provocando assim, uma grande movimentação por trás da parede rochosa.

 

Hoje em dia existem mecanismos que permitem a criação de correntes artificiais dentro do aquário, e a sua utilização apenas depende da sua disponibilidade financeira.

 

 

 

Nota – este artigo, composto pelas 3 partes, foi escrito em 2003

  • 3 anos depois...
Publicado:

Olá a todos,

 

Porque muitos têm seguido o meu artigo e porque tenho sido confrontado com algumas questões, quero relembrar que o artigo foi escrito em 2003 e desde então, como é evidente, mudei um pouco a minha opinião em relação a alguns temas.

 

Estou disponível para esclarecer toda e qualquer dúvida que possa surgir.

 

Abraço,

Diogo

Publicado:

Olá Hugo,

 

Se alteraste algumas considerações não pensas numa revisão dos artigos?

 

Gostava de ter tempo para o fazer...!

Para já apenas me posso prontificar a ajudar quem precisa (aliás, como tem sido costume de há muitos anos para cá).

 

Abraço,

Diogo

  • 2 semanas depois...
Publicado:

Boas,

 

Diogo, aproveitando a tua disponibilidade para ajudares..apresento-te abaixo um conjunto de questões de alguem que se vai iniciar agora nos 'salgados'.

 

1) Tenho um aquário de 80x50x50. Como pretendo colocar uma sump, logo terei que ter uma coluna seca. A minha questão é se vou fazer a coluna seca no canto do aquário, qual deverão ser as suas dimensões (a,l,p) e quantos furos terei que fazer e qual o seu diametro?

 

2) Relativo à SUMP, qual o tamanho aconselhado?

 

3) Em termos de filtro o que aconselhas e já agora que marcas?

 

Obrigado

Alberto Magalhães