Rui Ferreira de Almeida Publicado Novembro 13, 2005 Publicado Novembro 13, 2005 “VELUDO FATAL NO AZUL” : Amyloodinium ocellatum A doença do veludo nos peixes marinhos é causada pelo Amyloodinium ocellatum e, embora não seja tão frequente como a doença dos pontos brancos provocada pelo Cryptocarium irritans, é sem dúvida a mais perigosa de todas as doenças que afectam os peixes de água salgada. Sem quarentena, sem um diagnóstico precoce e sem um tratamento rápido, conduz geralmente ao extermínio da maioria dos peixes do aquário . O agente responsável por esta doença que aterroriza os aquariofilistas de água salgada, é um Dinoflagelado, um organismo unicelular com 2 flagelos, difícil de classificar ,pois assume características do reino vegetal e do reino animal, tendo sido, no passado, considerado uma alga por uns e um protozoário por outros. O ciclo de vida deste parasita processa-se da seguinte forma: Os dinosporos ( formas natatórias infestantes ) alcançam o hospedeiro e penetram na camada mucosa e fixam-se transformando-se nos trofontes que se alimentam e crescem. Estes trofontes quando completam o seu crescimento, caem do hospedeiro e enquistam-se produzindo os tomontes que em cerca de 3 a 5 dias à temperatura dos nossos aquários se dividem ,cada um, em cerca de 256 dinosporos. Os dinosporos sobrevivem em média 6 dias podendo chegar aos 15 dias sem hospedeiro. Através da compreensão do ciclo de vida do parasitar podemos traçar uma estratégia para o combater . Assim, a medida mais importante a tomar é quarentenar todos os peixes pelo menos durante um mês antes de os introduzirmos no aquário principal. Durante a quarentena poderemos detectar se o peixe está infectado ou não com Amyloodinium e tratá-lo eficazmente. Os únicos medicamentos comprovadamente eficazes contra este parasita – o cobre e a cloroquina- não podem ser utilizados em aquários com invertebrados porque são extremamente tóxicos para estes. A quarentena reduz drasticamente a probabilidade de introduzirmos a doença no aquário principal aonde seria muito difícil tratá-la e erradicá-la antes de exterminar os peixes . Poderemos até fazer um tratamento profilático. Existem casos em que mesmo durante a quarentena ,se o peixe tiver uma infecção latente devido a uma imunidade parcial adquirida por infecções não letais, a doença se possa não manifestar e ser introduzida no aquário . É nestes casos que o tratamento profilático assume um papel mais importante. Os sintomas mais frequentes da doença são : - dificuldade respiratória ( geralmente os parasitas atacam primeiro as guelras, e portanto quando o aquariofilista detecta o pó branco/amarelo aveludado na pele ou nas barbatanas, já é ,em muitos casos, tarde de mais) - falta de apetite - roçar em objectos - natação errática - veludo ( filme branco amarelado na pele e barbatanas ) Os métodos de tratamento disponíveis são: - Imunidade natural Os peixes adquirem imunidade quando são expostos a infecções não letais, em aquários com boas condições . Esta imunidade parece durar cerca de 6 meses. Isto acontece na maioria dos aquários cujos peixes não foram submetidos a quarentena rigorosa. Este é o motivo pelo qual, ocorrem casos recorrentes de infecção mesmo quando não são introduzidos peixes novos, e sempre que surgem factores de stress, como variações de temperatura ou perda de qualidade da água, que provocam uma quebra na imunidade. È também o motivo pelo qual introduzimos peixes portadores de doença que estão aparentemente sãos. Na realidade apresentam níveis de infecção muito ligeiros que não permitem ao aquariofilista detectar os sintomas. O problema é que esta imunidade não é muito duradoura e é difícil de ser conseguida sem colocarmos em risco a vida do peixe ( na prática é impossível controlar o nível de infecção ). - Cobre È o tratamento mais eficaz contra este parasita, no entanto, é extremamente toxico para os invertebrados , não podendo por essa razão, ser usado no aquário principal ,mas apenas num aquário hospital. È um tratamento complexo de fazer porque exige medições diárias para dosear a concentração de cobre que tem que ser mantida entre 0,15 e 0,25 mg/litro durante 3 semanas para exterminar o parasita. Como não se pode usar no aquário principal se ficar algum peixe no aquário, provavelmente ficará como reservatório da doença e perpetuará as infecções recorrentes. - Difosfato de cloroquina A cloroquina é um medicamento anti-malárico que também é eficaz contra o Amyloodinium ,mas é igualmente toxico para os invertebrados,não podendo ser usado no tanque principal. Embora seja mais fácil de usar, porque é administrado uma única vez na dose de 10 mg por litro, durante 3 semanas, é mais difícil de obter do que o cobre. - Banhos de água doce A maioria dos peixes de água salgada tolera um banho de água doce ,com o mesmo pH e á mesma temperatura ( água de osmose com bicarbonato de sódio ou um “buffer” qualquer para acertar dureza e pH), durante 5 minutos. Este banho faz cair os parasitas que estão fixados na pele ,nas barbatanas e nas guelras do peixe. Provoca um alivio imediato mas temporário a não ser que após o banho o peixe seja colocado noutro aquário livre de parasitas e que este processo se repita mais 2 vezes usando de cada vez aquários não infectados. A água do banho deve ser sempre descartada. A desvantagem deste método é que é muito stressante para o peixe porque exige uma captura que não é nada fácil num aquário decorado . - Banhos de formalina Não acrescentam nenhuma mais valia em relação aos banhos de água doce . a formalina também é toxica para invertebrados. - Hipossalinidade Em bora constitua um excelente tratamento para o Cryptocarium irritans ( doença dos pontos brancos de água salgada ), não é eficaz contra o Amylodinium porque este parasita tolera um amplo espectro de salinidade. No entanto, pode ajudar os peixes pporque lhes facilita a osmorregulação e a respiração. - Acriflavina+ aminoacridina+ formalina Estes princípios activos constituem alguns dos medicamentos, que estão na moda, para peixes de água salgada proclamados “reefsafe” , isto é, que alegadamente não prejudicam os invertebrados no aquário de recife . Infelizmente estas drogas para serem “reefsafe”, são tão diluídas ou ineficazes que embora não provoquem estragos visíveis também não apresentam qualquer efeito contra os parasitas . E referimos estragos visíveis, porque os danos que não vemos são indirectos e resultam da morte de bactérias nitrificantes e desnitrificantes, de microfauna e de algas que contribuem para o equilíbrio do aquário. Quando os peixes melhoram com estes tratamentos, o mérito não se deve ao medicamento mas sim, na maioria dos casos, ao desenvolvimento da imunidade natural por parte do peixe. - Vit C e extracto de alho Não são eficazes como tratamento mas parecem ajudar na prevenção fortalecendo o sistema imunitário. - Ultravioletas e ozono Não curam mas ajudam a evitar que a doença se espalhe , matando parte das formas infestantes, o que dá mais tempo ao peixe para desenvolver imunidade natural. - Controle biologico O uso de camarões e peixes limpadores parece não ter grande importância no controle dos parasitas em aquário, por quando a infecção ocorre , a carga parasitária é elevada , o que torna a acção destes animais insignificante. No entanto, podemos observar que nos aquários densamente povoados por corais e animais filtradores , os peixes parecem recuperar mais depressa e com uma taxa de sobrevivência muito maior às infecções parasitárias. Provavelmente, isto deve-se ao consumo de grande parte das formas infestantes pelos corais, o que ajuda a quebrar o ciclo de vida do parasita, dando mais tempo ao desenvolvimento da imunidade natural por parte do peixe. - Escuridão Como os pigmentos do Amyloodinium não lhe permitem fazer fotossíntese , deixar o aquário às escuras não impede a sua multiplicação , portanto este tratamento não tem qualquer razão de ser. - Trocas de água A sifonagem cuidadosa do fundo e as trocas parciais de água ajudam a remover e a diluir a quantidade de tomontes . - Aumento de temperatura O aumento de temperatura suficiente para matar o parasita não é compatível com o bem estar dos corais e dos peixes. - Peróxido de Hidrogénio ( água oxigenada ) A utilização de água oxigenada na dose de 25 ppm por litro durante 30 minutos durante 3 dias apresentou resultados prometedores em alguns estudos realizados . Falta estabelecer perfis de segurança, para várias espécies incluindo invertebrados, e as doses mais adequadas. No entanto, parece ser o tratamento com mais potencial num futuro próximo. Concluindo, podemos afirmar que os únicos tratamentos comprovadamente eficazes contra esta doença terrível para os amantes da aquariofilinha marinha, são o cobre e a cloroquina ,e ambos têm que ser administrados em aquários hospital/quarentena devido á sua toxicidade par os invertebrados. Assim torna-se obrigatório fazer uma quarentena de 1 mês a 1 mês e meio antes de introduzirmos qualquer peixe no aquário principal. Esta medida pode evitar muitos dissabores e problemas crónicos recidivantes que exterminam ciclicamente grande parte dos peixes do nosso aquário. Todos sabemos que é virtualmente impossível apanhar um peixe num aquário de recife a tempo de o tratar.
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