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Doenças dos Corais – Parte II

 

Na primeira parte deste tema falámos sobre a RTN, por ser provavelmente a doença mais frequente dos corais em aquário e cuja evolução é mais dramática. No entanto, existem outras igualmente importantes que iremos abordar nesta segunda parte.

 

Doença da gelatina castanha

 

Esta doença é causada por protozoários oportunistas que provocam infecções secundárias nos tecidos dos corais danificados por traumatismos, temperaturas elevadas e má qualidade da água. Os corais de pólipos grandes (LPS – large polip corals) como os do género Euphyllia, Catalaphyllia, Xenia e Galaxea são frequentemente afectados. Estes protozoários do género Helicostoma produzem ectoenzimas que digerem o tecido dos corais afectados, conferindo-lhes um aspecto gelatinoso de cor castanha. A progressão da doença é geralmente rápida e se não for tratada nos estágios iniciais pode conduzir à perda total da colónia.

O melhor tratamento consiste em remover o coral para um tanque separado onde se pode eliminar a parte afectada através de um jacto de água suave. Todo o tecido morto deve ser eliminado. Se isto ocorrer no tanque principal, os pedaços de tecido morto libertados devem ser imediatamente sifonados já que esse tecido decomposto pode irritar os outros corais adjacentes e desencadear novas infecções. Em seguida, poderemos dar um banho de 30 a 60 segundos em água doce, embora tal procedimento possa provocar stress ao coral. Devemos também dar-lhe um banho com Lugol (soluto iodado), na concentração de 10 gotas por 3,8 litros de água salgada, durante 30 minutos. Em seguida, podemos devolver o coral ao aquário, colocando-o numa zona com corrente moderada, mantendo-o, porém, em observação para repetirmos o tratamento caso necessário.

 

Necrose lenta dos tecidos (STN – slow tissue necrosis)

 

Embora parecida com a RTN (necrose rápida dos tecidos), esta doença, como o nome indica, evolui mais lentamente, matando os corais em semanas e não em horas ou dias. Além disso, afecta tanto corais recém introduzidos como corais já estabelecidos e não aparenta ser tão contagiosa como a RTN.

As causas desta doença parecem ser um excesso de matéria orgânica dissolvida e, consequentemente, de fosfatos e/ou défice de circulação de água, o que permite uma acumulação de detritos na base dos corais afectados. É precisamente nesta área da base ou entre os troncos principais dos corais que os pólipos exibem uma taxa de renovação mais lenta. Os detritos aí acumulados ou o retardamento da calcificação provocado por uma concentração elevada de fosfatos podem levar a uma morte mais rápida desses pólipos. O tecido em decomposição resultante dessa morte favorece o aparecimento de infecções bacterianas secundárias que fazem progredir a doença para as partes mais altas do coral, passando então a doença a evoluir mais rapidamente. O uso de um escumador mais eficaz e a utilização de resinas anti-fosfatos e de carvão activado, bem como a melhoria da circulação, resolverão o problema na maioria dos casos. Nos casos avançados a fragmentação parece ser a única solução eficaz.

 

Doença da banda branca

 

A principal diferença desta doença em relação à RTN e à STN é que podemos distinguir claramente uma faixa branca bem demarcada de tecido necrosado que vai subindo lentamente pelo esqueleto do coral. Alguns investigadores conseguiram isolar bactérias do género Vibrio nas áreas afectadas, embora outros não tenham conseguido incriminar qualquer agente patogénico.

O único tratamento eficaz parece ser pincelar a margem superior da banda branca com soluto de Lugol. Nos casos graves devemos fragmentar o coral para aproveitar as partes sãs.

 

Doença das Gonioporas

 

É comum observarmos que raramente conseguimos manter Gonioporas durante mais do que algumas semanas ou meses. Os pólipos começam progressivamente a retrair-se e uma doença parecida com a banda branca instala-se, progredindo lentamente e deixando apenas alguns pólipos no topo do coral.

Pensa-se que a principal causa deste fenómeno seja um défice de alimentação. Os pólipos das Gonioporas parecem preferir zonas de circulação moderada a forte e alimentações frequentes com zooplâncton ou seus substitutos como artémia recém-nascida. A presença de corais moles em grande quantidade no mesmo aquário parece agravar esta doença o que sugere uma hipersensibilidade das Gonioporas às toxinas destes corais. O uso de carvão activado poderá minimizar o efeito nocivo destas toxinas.

 

Existem ainda outras condições que afectam certos corais como as Xenias, em que colónias inteiras saudáveis e em franco crescimento sofrem um colapso agudo sem que se consiga encontrar qualquer explicação. Alguns investigadores sugerem que as Xenias gostam de águas ricas em nutrientes e que são muito sensíveis a mudanças na composição química da água. Ora estes colapsos súbitos poderiam, por conseguinte, estar relacionados com o esgotamento repentino de algum nutriente limitante.

 

Texto: Rui Ferreira de Almeida

Médico Veterinário