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Confesso que foi para mim um prazer escrever isto, até porque é a área que menos domino na Aquariofilia. Assim, este processo todo obrigou-me a ir procurar informação, selecionar e aprender, e no fim de tudo, apesar do trabalho que tive, quem ganhou fui eu! É um exercício que recomendo vivamente a todos: quando querem saber alguma coisa, pesquisem o máximo que conseguirem, reúnam o material (há muita coisa até contraditória na internet e por isso há a necessidade de confirmar), e depois verão que aprenderam muito mais do que pensavam!

Aconselho a gravarem e lerem com calma aos poucos ou quando tiverem tempo. Deu trabalho fazer o resumo, mas tentei que fosse o mais acessível possível para todos perceberem. Digamos que é a minha “Sebenta da Química da Água”.

 

pH

 

O pH significa potencial Hidrogeniónico, e expressa-se numa escala logarítmica que varia entre 0 e 14. Esta denominação nasceu em 1909 com o Bioquímico Soren Sorensen, para o ajudar nos controlos de qualidade da… Cerveja (não serve de nada para nós, mas eu achei piada).

A escala de pH, vai de 0 (máxima acidez) a 14 (máxima alcalinidade), passando por 7 (valor igual a ph neutro). Por ser uma escala logarítmica, os valores quando sobem ou descem uma unidade, significa que multiplicamos ou dividimos por dez a grandeza consecutivamente. Ou seja, quando temos uma agua com 7,5 pH e passamos para 6,5 pH, significa que a agua ficou 10 vezes mais acida. Se passarmos de 7,5 pH para 5,5pH significa que passou a ser 100 vezes mais acida.

 

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Imaginem o que acontece a uma espécie selvagem que vive com agua a 5,5 pH e no nosso aquário tem 7,5 pH... pois, até pode sobreviver, mas... Imaginem ter Tetras (que alguns vivem com 5,5 pH) com ciclídeos (alguns com 9 pH) no mesmo aquário. Ou sofrem os Tetras, ou sofrem os ciclídeos ou sofrem ambos!

Para mais tarde compreendermos a interação do pH com outros parâmetros, é importante perceber que aquilo que faz andarmos mais para cima ou para baixo na escala de pH é a quantidade de iões de Hidrogénio presentes na água. Quanto mais iões de Hidrogénio tivermos, mais acida fica a agua. Ou seja, se adicionarmos algumas coisas à agua (químicos, pedras, troncos, etc...) que possam libertar iões de Hidrogénio o pH descerá.

 



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Os valores de pH têm muita importância para nós, por vários motivos:

1. A sobrevivência e qualidade de vida da fauna do nosso aquário. Dependendo da zona do globo de onde são originários, podemos ter peixes que vivem em habitats abaixo dos 6 pH (como nos BlackWaters carregadas de taninos, da bacia do Amazonas) até 9 pH (por exemplo nos peixes originários do Vale do Grande Rift). Como é obvio, não os podemos ter em conjunto. Apesar da maioria das espécies tolerarem uma amplitude de algum pH, não se pode de todo colocá-las em aquários com pH muito destintos! No que diz respeito aos peixes, é sempre preferível ter um habitat com o pH estabilizado do que andar a subi-lo ou descê-lo à procura de umas décimas que por vezes são inócuas. Por exemplo, um peixe que goste de 6,5 pH e no aquário tenha 7,5 pH, vive melhor com esse pH do que andarmos sempre a descer esse valor. É mais stressante a variação do pH do que eles viverem com um pH LIGEIRAMENTE diferente do ideal.

2. Os valores do pH podem influenciar também a forma como as bactérias do filtro trabalham. Um valor mais baixo fará com que as bactérias trabalhem menos eficientemente.

3. Para quem tem plantados, acaba por ser importante também a monotorização do pH uma vez que as plantas são por norma originarias de ambientes com agua mais acida. Não é por acaso que alguns substratos baixam o pH de propósito.

4. Com a diminuição do pH, existe também a possibilidade de aparecimento e proliferação de algas.

Importa relembrar uma vez mais, que é muito importante um aquário ter o valor de pH estabilizado. Mais tarde veremos como alterá-lo em algumas situações que possam ser necessárias.

 

DUREZA DA ÁGUA

 

A Dureza da Água está dividida em Dureza Total (GH) e a Dureza Carbonatada (KH). O GH é a soma de todos os metais alcalino-terrosos na água (ex: iões cálcio e de magnésio), e o KH é a soma dos carbonatos e hidrogenocarbonatos.

Simplificando:

O GH é uma medida que expressa um determinado teor de minerais na água. É útil saber este valor, porque tem influência nos peixes e também na capacidade das plantas absorverem nutrientes.

A unidade de medida do DH é dH, ou seja, por exemplo 5 dH. dH significa 'graus de dureza' (degree hardness), enquanto isso, a outra unidade de medida usada, a ppm, significa, parte por milhão (parts per million) que equivale a mg\L (miligramas por Litro). Simplificando, a água com 1dH equivale a 17.8ppm de CaCO3 (Carbonato de Cálcio). Veremos depois a importância do CaCO3 no artigo que falaremos acerca da interação dos parâmetros na agua e na forma como os podemos alterar...

Referimo-nos à agua como sendo dura ou mole, quando falamos do GH. Por exemplo:

 

0 - 4 dH (0 - 70ppm) - muito mole


4 - 8 dH (70 - 140ppm) – mole


8 - 12 dH (140 - 210ppm) - media dura


12 - 18 dH (210 - 320ppm) – dura


18 - 30 dH (320 - 530ppm) - muito dura

 

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O KH indica a estabilidade do pH na agua. Para a maioria dos aquariofilistas o KH é o parâmetro mais importante porque o seu valor pode estabilizar o valor do pH. Isso acontece porque o KH mede a quantidade de carbonato e estes têm a capacidade de buffering, ou seja, manter o pH quieto!

A unidade de medida é o dKH. Se a Dureza for inferior a 4 dKH, o valor do pH vai oscilar bruscamente e pode subir como descer e por vezes repentinamente. Quanto maior for o KH, digamos que maior é a capacidade do aquário manter o pH estável.

 

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FOSFATOS

 

Vamos abordar o Fosfato que está presente no nosso aquário sob a forma de PO4. Muitos conhecem este símbolo pelas fertilizações para a flora do aquário (é um Macro Nutriente). No entanto existem algumas coisas acerca do Fosfato que devemos saber.

Em primeiro lugar é um químico que DIRETAMENTE não faz mal aos peixes. Apesar disso não o queremos dentro do aquário em valores elevados. Os fosfatos são umas das principais causas do aparecimento de algas. Em aquários bem plantados e com um consumo energético (da flora) elevado, os fosfatos têm de ser adicionados. Em aquários com muitos peixes (muito mais fauna do que flora) os valores de fosfatos tendem a aumentar sozinhos.

Praticamente todos os alimentos para a fauna têm fosfatos, e têm-no em diferentes medidas. Por exemplo, a comida barata, tem bastante fosfatos, porque é feita com farinha de peixe barata. Já algumas marcas apostam no processamento de proteína de alta qualidade a partir de filetes de peixe. Os alimentos congelados, têm também uma quantidade de fosfatos muito alta. Por isso referimos que o aparecimento de algas pode estar com a quantidade de comida que se dá.

Quando a flora e a fauna do aquário morre, (plantas ou peixes) devem ser imediatamente retirados do aquário, porque o fosfato é um dos químicos que é libertado em primeiro lugar (alem de outros bastante nocivos).

Os valores recomendados do PO4 na água são abaixo dos 0.05 ppm, Quando sobem até aos 1.0 ppm (1.0mg/L) o aparecimento de algas é provável. Acima desse valor (2 ou 3 ppm) podemos ter muitos problemas, nomeadamente com o esverdeamento da agua o que pode consumir o O2 (Oxigénio). Essa baixa de O2, causará a inevitáveis consequências com os peixes, mas também com o filtro, uma vez que as bactérias presentes dentro do filtro são aeróbias (dependem de oxigénio), obrigando ao restart de todo o ecossistema (aquário e filtro)

 

POTÁSSIO

 

O Potássio (K), é um químico que não é gerado no nosso aquário. É importante para quem tem plantas pois o Potássio é fundamental para que elas cresçam de forma saudável (é um Macro Nutriente). É um nutriente que as plantas absorvem rapido e armazenam-no durante algum tempo. Se o Potássio desaparecer da agua, a esmagadora maioria das plantas não se desenvolverá de forma saudável. Isso deve-se à Lei de Liebig (as plantas só se alimentarão até que o primeiro nutriente vital se esgotar. Quando assim for, nenhum outro será consumido).

O Potássio, no meio ambiente, existe em concentrações muito baixas, e só elevamos esses valores no nosso aquário por causa das plantas. Os valores recomendados para o Potássio em aquários de agua doce variam entre 10-30 mg/L. No entanto, existem poucos testes para avaliar a sua concentração. Avaliamos normalmente a concentração do Potássio indiretamente por eliminação de fatores (quando há problemas na fertilização, e se todos estão bem, faltará Potássio).

 

COMPOSTOS DE AZOTO (Amónia, Amónio, Nitritos e Nitratos)

 

Em primeiro lugar vamos esclarecer uma questão de nomenclatura: AZOTO É A MESMA COISA QUE NITROGÉNIO! Assim, Nitratos e Nitritos, que têm como origem a palavra Nitrogénio, são compostos de Azoto. Quando falamos de Ciclo de Azoto, é a mesma coisa que ciclo de Nitrogénio. Feito o esclarecimento…

Dentro do aquário aparecem compostos de Azoto. Principalmente 4: Amónio (NH4), Amónia ou Amoníaco (NH3), Nitritos (NO2) e Nitratos (NO3). Uns são tóxicos, outros toleráveis e um até quase inócuo. Por isso mesmo, para quem começa este hobby, deverá aprender rapidamente os conceitos e a controlá-los!

Já todos ouvimos falar do ciclo de Azoto/Nitrogénio. Este ciclo, ou processo, não é mais do que a degradação de compostos que são mais complexos e que são nocivas aos peixes e transformá-los em compostos mais simples e tolerados pelos mesmos. Isto ocorre dentro do aquário e dentro do filtro.

 

1. AMÓNIO

 

O Amónio (NH4) é excretado pelas guelras dos peixes e também proveniente da degradação das proteínas existentes na comida (por ex). Com pH superior a 6.0 transforma-se em Amónia e não em amónio. Não sendo tóxico, se as concentrações forem elevadas na agua do aquário, o peixe não o consegue excretar, levando a complicações sérias, muito sérias. Quando o pH é mais elevado do que 6.0, parte deste Amónio converte-se em Amónia, que é muito tóxica (valores acima de 0,01 mg/L são LETAIS)!

 

2. AMÓNIA

 

A Amónia (NH3) tem origem nos compostos orgânicos, tais como, restos de comida, excrementos dos peixes, matéria fecal, folhas mortas, etc…

Com um filtro saudável, O Amónio e a Amónia, rapidamente são convertidos em Nitritos.

 

3. NITRITOS

 

Os Nitritos (NO2) são originários da degradação do Amónio e da Amónia. A responsabilidade deste processo químico (nitrificação) está a cargo das bactérias nitrificantes (nitrossomas spp). Estas bactérias são Aeróbias (necessitam de Oxigénio sob a forma de O2) e proliferam enquanto houver alimento (NH3 ou NH4).

O Nitrito, apesar de ser menos tóxico que a Amónia, continua a ser muito tóxico, e com valores acima de 0,2 mg/L pode-se tornar LETAL! O Nitrito bloqueia o transporte do oxigénio no sangue dos peixes (e humanos até) provocando asfixia. Há algas que gostam muito de nitritos e é normal as diatomáceas aparecerem quando se faz o Ciclo do Azoto ao fim de uns dias.

A existência de nitritos na agua, em filtros ciclados é sinal de que existe um distúrbio na atividade bacteriana (por exemplo uma limpeza desadequada do filtro) ou um excesso de matéria poluente dentro do filtro.

Os filtros quando são novos, ou quando mudamos as matérias filtrantes, estas não trazem estas bactérias, e por isso é necessário que se administre na agua um ativador biológico. No entanto não é suficiente apenas para o arranque. É necessário que elas se alimentem e como vimos em cima, é necessário Amónio ou Amónia. Assim podemos introduzir comida ou mesmo um vivo resistente dentro de agua. ATENÇÃO AO VIVO QUE SE INTRODUZ E QUANDO!

 

4. NITRATOS

 

Os Nitratos (NO3) são originados pela degradação do Nitrito(NO2) em condições Aeróbias. Quem processa esta reação química também são bactérias, e estas especificas tem os nomes de Nitrobacter ssp. e Nitrospira.

O Nitrato não é tão tóxico como os outros compostos, podendo os peixes tolerarem valores entre 50 a 200 mg/L, dependendo da espécie. Algumas espécies apenas toleram concentrações abaixo desses valores. Nos peixes, por vezes inibe o seu crescimento, principalmente em crias, o que faz com que os criadores/reprodutores de peixes não queiram nitratos na agua.

Valores altos de Nitratos podem levar também ao aparecimento de algas, e por isso não se recomendam valores acima de 50 mg/L.

O Nitrato pode ser eliminado através de bactérias Anaeróbias (vivem em condições sem Oxigénio), chamadas de nitrobacterias, existente no substrato (com mais de 20/25cm de altura), convertendo em gás nitrogénio (N2), dióxido de carbono (CO2) e água (H2O). Este processo chama-se desnitrificação.

Como o Nitrato é também um Macro Nutriente das plantas, utiliza-se as mesmas para o seu consumo, chegando mesmo a necessária introdução de Nitratos para o seu crescimento em aquários plantados. Em aquários plantados, e quando se quer uma coloração mais vermelha de algumas espécies de plantas, provoca-se um ‘stress de nitratos’, ou seja, reduz-se a sua concentração dentro de agua.

A forma mais eficaz de reduzir as concentrações dos compostos de Nitrogénio (Amónio, Amónia, Nitratos e Nitritos) é com TPA.

 

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DIOXIDO DE CARBONO (CO2)

O CO2 é um Macro Nutriente que administramos na agua a fim de um melhor crescimento das plantas. Para algumas delas, é inclusive fundamental a sua administração. No entanto, o CO2 é altamente tóxico para a fauna, e por isso a sua administração deverá ser cuidadosamente observada. Não se deve dar mais CO2 ás plantas do que elas podem consumir, uma vez que o CO2 compete diretamente com o O2 na agua. Quanto mais CO2, menos O2, tornando o ecossistema inabitável. O CO2 também pode alterar os parâmetros da agua, como o pH.

 

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