Olá a todos! Abro este tópico para renascer a conversa sobre uma espécie que foi falada aqui no fórum em 2008 e que sem querer encontrei e achei que tinha um potencial incrível, mas que com o tempo se perdeu o interesse e nunca mais vi uma referência a estas. Refiro-me à espécie Theodoxus fluviatilis, também conhecida como Nerita de Rio. Ora bem, esta espécie pertence à família Neritidae, que, tal como podem entender pelo nome, é a família à qual pertencem as nossas famosas neritinas vendidas em lojas de aquariofilia.
Pequena Descrição: Theodoxus fluviatilis é uma espécie de um gastrópode de água doce, com uma carapaça espessa, de padrões variados, com alguns bastante atrativos. Estes padrões variam de acordo com a sua origem geográfica, teor de sal presente na água e provavelmente outros fatores não descritos como o ambiente em redor, idade e genética. O corpo deste animal é cinza claro, como a maior parte das neritinas e possui duas antenas com os olhos na sua base. O seu tamanho geralmente ronda entre os 1cm e os 1.5cm, fazendo lembrar os Clithon sp.
Existem duas subespécies principais, que se diferenciam pela região onde vivem e, consequentemente, pelos teores de salinidade que encontram. A subespécie T. fluviatilis fluviatilis habita rios e lagos de água doce, apesar de aguentar até 1.5% de salinidade, enquanto que a subespécie T. fluviatilis littoralis habita águas com salinidade até 18%. Nenhuma das subespécies migra de água doce para salobra, ou vice-versa.
Distribuição: Esta espécie distribui-se por quase toda a Europa até ao Oeste asiático, existindo nos rios portugueses. É a espécie do género Theodoxus com a distribuição mais ampla conhecida. Apesar de haver alguns locais do mundo, como por exemplo na Alemanha, onde a população se encontra em decréscimo devido à engenharia dos rios e poluição, felizmente é uma espécie que se encontra na categoria menos preocupante de conservação.
Alimentação: A sua alimentação baseia-se principalmente em biofilme, algas verdes e diatomáceas que crescem nas rochas ou troncos submersos onde elas gostam de habitar. Não tocam nas plantas, de todo, nem é possível alimentar estes caracóis com vegetais fervidos, pelo que é recomendado colocar apenas em aquários já estabilizados com algum biofilme e algas nos vidros/rochas/troncos. Podem ver o trabalho delas numa rocha cheia de algas verdes na qual deixou o rasto por onde passou.
Reprodução: Este caracol não é hermafrodita, apresentando indivíduos com ambos os sexos, mas não é fácil diferenciar entre os dois sexos a olho nu. As fêmeas depositam cápsulas calcificadas que contêm um grande número de ovos, no entanto, apenas um caracol se desenvolve e nasce do ovo, enquanto os outros embriões servem de alimento para este. Na minha experiência, as cápsulas de ovos são depositadas maioritariamente em fendas nas rochas e troncos, em volta das ventosas do termóstato e no silicone entre vidros. É raro encontrar ovos disseminados pelos vidros, parecendo que os pais procuram um local seguro para desovar. Um hábito engraçado que esta espécie apresenta é que muitas vezes os ovos são depositados nas carapaças de outros caracóis.
O facto desta subespécie proveniente de água doce aguentar teores de salinidade até 1.5% poderia ser um indicador de que, tal como as suas primas usadas em aquariofilia, a reprodução destas depende de uma fase larvar em água salobra. Ora, NÃO É O CASO deste animal.
Esta foi a principal razão pela qual achei a espécie tão interessante. Fazem o mesmo trabalho das neritinas comerciais, cabem nos lugares mais pequenos como os Clithon, mas não é preciso comprar caracóis de x em x tempo, porque é extremamente fácil de reproduzir. E digo isto, porque após ler o registo de um membro em 2008, decidi procurar pelos rios da minha zona por estes moluscos e neste momento já tenho juvenis nascidos no meu aquário.
Aquário: Esta espécie é fácil de manter em parâmetros químicos ideais para outras neritinas: pH entre 7-8, kH e gH algo elevados - mas pelo que li podem sobreviver em águas mais ácidas se houver um controlo mais rigoroso da dureza da água. Aguentam temperaturas frias (habitam os nossos rios, como o rio Douro) e também aguentam até 25ºC em aquário. Para o desenvolvimento dos embriões é necessário pelo menos uma temperatura entre os 10-12ºC. O que está descrito é que as cápsulas demorem cerca de 30 dias a eclodir a 25ºC e 65 dias a eclodir a 20ºC, no entanto, a minha experiência foi de um bocadinho mais, cerca de 90 dias em 22ºC. Outra grande vantagem que estes animais têm, é que ao contrário das neritinas comerciais, estes não têm o mau hábito de sair do aquário para passear!
Espero as vossas opiniões quanto a esta espécie e o potencial que ela tem para equipa de limpeza nos nossos aquários. Se tiverem algumas questões também o podem fazer!
Referências:
Abdallah, M. 2015. "Theodoxus fluviatilis" (On-line), Animal Diversity Web. Accessed December 19, 2020 at https://animaldiversity.org/accounts/Theodoxus_fluviatilis/
Wikipedia contributors. 2020. Theodoxus fluviatilis. In Wikipedia, The Free Encyclopedia. Accessed December 20, 2020 at https://en.wikipedia.org/wiki/Theodoxus_fluviatilis
PS: Um obrigado ao user R.F.S.F. por me incentivar a criar este tópico e trocar algumas experiências comigo!