Se alguma coisa aprendi após mais de uma década de manutenção de lagos foi a NÃO USAR filtros.
O pessoal, como tem experiencia nos aquários, fica com a ideia que os filtros são essenciais...
Tenho visto esta situação repetir-se muitas vezes:
O principiante começa por instalar um filtro e uma bomba que, embora sejam POTENTES em aquariofilia, são insignificantes para o volume do lago...
Filtro e bombas passam então a vida a entupir, até que o aficionado se farta e os desliga de vez!
Isto foi precisamente o que aconteceu no meu primeiro lago
Vejamos, se usamos bombas de 1000 litros numa sump de um aquário de 120 litros deveriamos então, proporcionalmente, usar uma bomba de 100 000 litros num lago de 12 000 litros. De facto, como o lago é um sistema aberto, onde diariamente caiem folhas, pó, insectos, etc ., poderia até ser desejável uma bomba ainda mais potente, em especial se quisermos alimentar uma cascata realmente boa.
Mas sejamos poupados e admitamos que uma bomba 10 vezes menos potente estará no limite mínimo do aceitável. Ora, uma bomba de 10000 a 20000 litros sai CARA e não apenas na compra: irá consumir centenas de watts, 24 horas por dia. Torna-se também necessária uma sump de dimensões correspondentes e materiais filtrantes.
É ainda preciso não descurar a manutenção: É necessária a limpeza regular dos pré-filtros para que o caudal não caia drasticamente, uma operação que deve ser feita semanalmente. Finalmente, o próprio material filtrante deve ser limpo ou substituido, duas ou três vezes por ano.
Mais tarde, descobre-se que mesmo uma filtragem de potencia razoável não evita as algas verdes unicelulares e a água torna-se numa sopa de ervilhas - obrigando a comprar mais equipamento dispendioso: um filtro UV.
Após muito dinheiro gasto, após o esforço adicional de construção e após muito trabalho de manutenção o que é que se tem?
Se o equipamento foi bem dimensionado e a manutenção está em dia, têm-se a água transparente.
Mas não se tem uma boa carga de zooplanction livre (pequenos crustáceos, protozoarios e outros seres) porque as bombas matam-nos, quer mecanicamente quer através da radiação UV. Estamos a destruir um dos elos mais importantes na cadeia alimentar, útil no crescimento dos alevins e na alimentação dos peixes adultos, ao comerem crustaceos e larvas de insecto que por sua vez se alimentam do zooplancton.
Não teremos também o importante benefício da extratificação térmica do lago porque as bombas, ao movimentarem a água, equalizam a temperatura: na prática, para os seus habitantes, o lago torna-se mais frio de inverno e mais quente de verão.
Finalmente, não teremos um verdadeiro lago, ou seja, não criámos realmente o biótipo correspondente a uma pequena área alagada, comum na natureza e preferido por muitas espécies de animais e plantas.
Aquilo que teremos é simplesmente um aquário ao ar livre.
A alternativa é gastarmos menos dinheiro, com menos esforço de construção e com pouca manutenção:
Um lago sem qualquer aparelho eléctrico, onde filtragem biológica é assegurada por uma grande biomassa de plantas, incluindo o fundo coberto por oxigenadoras, como elodeas e vallisnerias, além das plantas marginais e dos nenúfares.
Neste caso, teremos que aceitar o seguinte:
A água só ficará transparente de inverno, de verão estará sempre mais turva, devido ao normal aumento do fito e zooplanton, porém nunca se apresentará opaca ou "sopa de ervilhas".
Se acha que pode viver com isso, instale REALMENTE um lago, assente em princípios naturais e esqueça tudo quando é filtragem artificial.
Miguel