Sérgio Costa Publicado Julho 11, 2006 Publicado Julho 11, 2006 Este texto suge como resposta a algumas questões relacionadas com a genética dos Bettas, e obtenção de linhagens com características particulares (variedades) mais difíceis de encontrar entre nós. O Exemplo que dou refere-se à variedade Crowntail dos bettas: A característica "crowntail" é determinada por um gene recessivo, apenas se expressa quando os dois cromossomas parentais (um materno e um paterno) possuem esse gene. O gene dominante é "normal" e para se expressar basta estar presente em apenas um dos cromossomas. Como adquiriste um crowntail, ele é homozigótico - possui o gene em cada um dos seus 2 cromossomas. Partindo daqui daqui tens 3 hipóteses: 1) Cruzas o macho com uma fêmea que também é crowntail. Neste caso, como tanto o pai como a mãe apenas têm o gene que codifica a característica crowntail, toda a descendência será homozigótica para a característica, ou seja, serão todos crowntail. 2) Cruzas o macho um uma fêmea heterozigótica - que possui apenas uma cópia do gene "crowntail" num dos seus cromossomas (ou o materno ou o paterno). Nestas fêmeas, a não ser que conheças a sua ascendência, nunca poderas saber se ela é heterozigótica ou não. Contudo se ela fôr, é o caso em que (estatisticamente falando - devido às propriedades da meiose) 50% da descendência será heterozigótica (tal como a mãe, mas neste caso vão herdar sempre o gene "crowntail" do pai e o "normal" da mãe) e os restantes 50% serão crowntails (herdaram o gene "crowntail" de ambos os progenitores) 3) Cruzas o macho com um fêmea homozgótica normal. Nesta situação, como a fêmea não tem o gene "crowntail", toda a descendência será heterozigótica. Este será o caso mais provável que te poderá ocorrer, no caso de não encontrares um fêmea crowntail. Obtendo esta 1ª geração adulta, podes enveredar por duas vias: 3.a) Cruzas a descendência entre si. Vais obter apenas 25% de crowntails, 50% de heterozigóticos, e 25% de homozigóticos "normais". 3.b) Cruzas uma das descendentes com o pai. Obténs 50% de crowntails e 50% de heterozigóticos. Na minha opinião, 3.a é a melhor alternativa para evitar problemas de consanguinidade a curto e médio prazo, mas também é a que obtém menor "rendimento" de crowntails. Convém de vez em quando, se possível, introduzir genes novos na descendência, através do cruzamento seleccionado com um macho crowntail de outra proveniência. Resta-me dizer que este texto também se pode aplicar a outras características com transmissão mendeliana, como é o caso da coloração dos peixes, os "double tail", etc... Espero que o texto não seja demasiado maçudo, tentei sintetizar ao máximo as ideias base, apoiando-me num exemplo concreto. Se julgarem necessário, tento ainda introduzir algumas imagens para terem ideia de como isto se processa em teoria. Boas Criações! 1
aquaben Publicado: Julho 11, 2006 Publicado: Julho 11, 2006 Boas Sérgio acho que cobriste todos os ângulos, e como vejo que estás muito mais dentro de o assunto do que eu, já agora esclarece, de uma vez por toda, a confusão, que anda neste fórum, em relação aos híbridos…Isto se não for pedir demais… Um abraço, até breve José Bentes APC"134"; APK "214" http://sites.google.com/site/aquabenfriends/home
Sérgio Costa Publicado: Julho 11, 2006 Autor Publicado: Julho 11, 2006 A pedido do Aquaben: Para esclarecer a questão dos híbridos é necessário esclarecer ainda outros conceitos, nomeadamente de espécie e população. Assim: Espécie - qualquer conjunto de indivíduos que habitam uma mesma área georgráfica e que se cruzam entre si, originando descendência fértil. De acordo com esta definição, vamos agora imaginar a seguinte situação: Temos uma espécie de peixe A presente no Rio Douro e uma espécie de peixe B no Rio Tejo. Um dia um grupo de aquariófilos parte numa saída de campo a estes 2 rios e um deles recolhe um peixe macho da espécie A no Douro e uma fêmea da espécie B no Tejo. Coloca-os no aquário juntos e passado uns meses verifica que os peixes produziram descendência fértil. À 1ª vista poderiamos dizer que se trata da mesma espécie, uma vez que se cruzaram e originaram descendência fértil. Contudo, no meio natural, estes indivíduos nunca se encontrarão, por habitarem em rios diferentes. São por isso consideradas 2 espécies diferentes. População: conjunto de indivíduos de uma mesma espécie que habitam áreas gográficas diferentes e entre as quais existe um fluxo de genes. Para este caso, proponho este exemplo: Imaginemos um conjunto de 4 ilhas, A, B, C e D, dispostas linearmente. Cada ilha tem a sua população de aves, designadas por 1, 2, 3 e 4, respectivamente. A população 1 apenas se cruza com a 2, a 2 cruza com a 1 e a 3, a 3 com a 2 e 4, e a 4 apenas com a 3. (Obviamente que dentro de cada população também existem cruzamentos, 1 com 1, 2 com 2, etc...). Será que 1 é uma espécie diferente de 4, por não se cruzarem? A resposta a esta pergunta está na própria definição de população. Existe efectivamente um fluxo de genes entre as populações 1 e 4, por intermédio de 2 e 3. São portanto uma única espécie. E finalmente, a questão que tanta gente aflige: Híbridos: Ser resultante do cruzamento entre progenitores de espécies diferentes. Geralmente existem mecanismos que impedem que isto succeda. Se o indivíduo nascer, geralmente é muito débil, infértil, e de tempo de vida reduzido. É mais frequente ocorrer nas plantas, por isso o exemplo que se segue é retirado de lá (embora possa ser adaptado aos animais). Temos uma espécie de planta A, diplóide (com n pares de cromossomas homólogos, maternos e parternos - notação "2n") em que 2n=10; e outra espécie de planta B, com 2n=8. De acordo com o fenómeno da meiose (redução para metade do número de cromossomas) as plantas originam gâmetas halplóides (com apenas n cromossomas - ou maternos ou paternos - notação "n") A com n=5 e b com n=4. Aquando da fecundação, como estes gâmetas não têm qualquer relação, vai-se originar um indivíduo híbrido, com n+n=9 (4+5). De salientar que este "n+n" em nada corresponde ao "2n" dos progenitores. Como este indivíduo não é diplóide ("2n") a meiose nunca se poderá dar, logo, ele é estéril. Não vai haver troca de genes entre as plantas da espécie A com as da espécie B, porque o híbrido é incapaz de produzir gâmetas. Contudo, esse indvíduo pode tornar-se diploide, através de um processo de "diploidização". Como durante a mitose há duplicação do nº de cromossomas, se não houver separação das células filhas (ou segregação dos cromossomas homólogos para uma das células filhas) a célula tornar-se-á diplóide e o híbrido será fértil, originando uma espécie nova, com 2n=18. Esta espécie, devido ao seu novo cariótipo (nº de cromossomas) é incapaz, em teoria, de se cruzar com as espécies que lhe deram origem. De onde é que vocês julgam que apareceram tantos tipos de couves e trigo? Foi tudo através de processos de hibridização e diploidização. Uma última coisa que julgo que vale a pena esclarecer: Variedade: é um grau de classificação das espécies, ainda mais baixo que sub-espécie, e que denota diferenças morfológicas entre conjuntos de indivíduos. Raramente é utilizado. As espécies têm nomes fixos, no caso dos Bettas, Betta splendens. Contudo, se nos quiseremos referir a alguns indivíduos com características morfológicas definidas, poderemos utilizar o termo "variedade". É incorrecto dizer, por exemplo, que "crowntail" é uma espécie ou sub-espécie de Betta splendens. Bem, penso que já cobri grande parte dos aspectos em que muita gente erra, relativamente a estes assuntos de genética. Estou convencido que não é por falta de vontade de aprender, senão não estaríamos aqui. Reconheço que estas definições de biologia nem sempre são as mais fáceis de entender, mas estou convencido que o problema será sobretudo esse. Depois de todo o trabalho que tive neste tópico, gostaria de pedir autorização ao Fábio e ao Ricardo Gomes se me deixam alterar o título do tópico, editar, e colocar como inamovível. Obrigado. Sérgio Costa.
aquaben Publicado: Julho 11, 2006 Publicado: Julho 11, 2006 Sem duvida que deve ser posto como artigo de consulta. E podiam aproveitar e porem tambem no sub-forum dos ciclideos africanos, pois aí usam e abusam do termo hibrido... Parabéns e muito obrigado, excelente, acho que não ficam duvidas. Um abraço, até breve José Bentes APC"134"; APK "214" http://sites.google.com/site/aquabenfriends/home
RastejantE Publicado: Março 23, 2007 Publicado: Março 23, 2007 Em relação aos Hibridos, e espero ñ estar enganado... Temos um exemplo simples em portugal... Os famosos, machos e mulas q eram usados em tempos juntamente com burros para puxar as carroças... Eles resultam do cruzamento entre o cavalo e uma burra ou entre um burro e uma égua... Não se podendo reproduzir dps entre eles.. Um abraço e espero ñ ter dito nenhuma asneira, e ter conseguido ainda exclarecer melhor o ppl em relação aos hibridos... []'s
Jorge Bento Publicado: Janeiro 15, 2009 Publicado: Janeiro 15, 2009 (editado) Olá a todos! Tou a tentar organizar as coisas um pouco melhor, por isso editei um pouco este topico, agredeço a todos pelas respostas. Qualquer duvida relacionada directamente a este topico criem um tópico novo, se for uma pergunta pretinente e bem respondida, será reencaminhada para este post. Isto para não ter um topico demasiado extenso com conversas cruzadas. Obrigado Editado Janeiro 15, 2009 por Jorge Bento Obrigado Jorge Bento Licenciado em Biologia Marinha e biotecnologia no ramo de aquacultura Presidente da Associação Portuguesa de Bettas splendens e selvagens www.apbettas.com
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