André Silvestre Publicado Novembro 24, 2005 Publicado Novembro 24, 2005 Com a introdução de plantas no aquário, o aquariófilo muitas vezes se pergunta se tem o substracto correcto, visto haver vários tipos de substracto, que vão desde as marcas mais prestigiadas, passando pelos substractos “ caseiros” e acabando no vulgar areão de rio. <span style='color:blue'>Características de um bom substracto</span> Antes de mais, para nos facilitar na escolha de um bom substracto, convém saber quais as características que este deve ter para suportar plantas e permitir o seu correcto desenvolvimento. - Um bom substracto tem de ser acima de tudo poroso, permitindo uma boa circulação de água e com esta vem a oxigenação e temperatura adequada quer às raízes quer às bactérias nitrificantes. A livre circulação de água através dos poros e espaços deixados pelo substracto facilitam também a disseminação de nutrientes por todo o substracto. A granulometria ideal será entre 2 e 4 mm. Substractos compactos como areia, a curto prazo, podem parecer bons pelo facto de “ agarrarem” bem as plantas, já para não falar que são mais económicos, mas à medida que o aquário vai amadurecendo e o ecossistema aí instalado vai reciclando a sua própria matéria morta, os substractos vão ficando mais duros e mais compactos ( pequenas partículas vão-se depositando no fundo e vão afundando até chegarem às zonas mais fundas do substracto). Isto dificulta a penetração das raízes, a oxigenação destas, com zonas em que a temperatura difere bastante e tudo isto acaba por se fazer ressentir no estado de saúde das plantas. Se, à partida, tivermos um substracto poroso, esses problemas ficam atenuados e as plantas têm um melhor desenvolvimento a longo prazo. - Um bom substracto deve ter uma capacidade de tamponizar o pH a valores ácidos ou, pelo menos, tamponizar o pH a um valor neutro. Isto porque, a maior parte das plantas, prefere águas ligeiramente ácidas que influenciam a absorção de nutrientes. Substractos alcalinos impedem a absorção de grande parte dos nutrientes, obrigando a uma fertilização líquida mais reforçada e mais bem controlada. O pH alvo para um aquário plantado e que não seja prejudicial aos peixes é um pH que se situe entre os 6.5 e os 6.8 estáveis ( a respeito do consumo de nutrientes e fertilização líquida de uma perspectiva mais aprofundada, ver tópico “ "Manutenção de plantas aquáticas - Parte I: Nutrientes" e " <span style='color:green'>Manutenção de plantas aquáticas - Parte II:Fertilização</span>” ainda em construcção). - Um bom substracto pode ou não ser pré-fértil. Pré-fértil quer dizer que, tendo em conta os vários substractos das inúmeras marcas de aquariofilia que se comercializam, estes já vêm enriquecidos com nutrientes, quer apenas Macronutrientes, quer apenas Micronutrientes, quer ambos ( depende da marca e do preço basicamente). A vantagem destes substractos férteis é dar um bom avanço às plantas através da absorção radicular, evitando assim a fertilização líquida através da coluna de água. Contudo, os substractos das marcas mais prestigiadas são tão ricos em nutrientes que é necessário ter cuidado nos primeiros tempos, uma vez que parte desses nutrientes podem passar para a coluna de água, podendo ser desastroso a nível de algas. Mas um bom substracto pode também ser inerte ou não ser pré-fértil ( uso a palavra pré-fértil para me referir aos substractos férteis produzidos pelas grandes marcas), mas conter na sua constituição mineral inúmeros nutrientes que a longo prazo vão ser aproveitados pelas plantas, à medida que o substracto se desfaz ( exemplo: argilas); ou ainda, podemos ser nós a fazer a nossa combinação de substracto, como falarei mais adiante. <span style='color:blue'>Materiais que podem constituir o substracto</span> Estando constatadas as características mais importantes de um bom substracto, passemos aos diferentes tipos de materiais que podem ser usados como substracto. - Substractos férteis de marcas ( não vou falar em nenhuma marca em particular mas sim de um modo geral): são basicamente argilas porosas em forma de grãos de granulometria ideal, pré-aquecidas a temperaturas elevadas e enriquecidas com nutrientes em quantidades que vão desde o razoável até à abundância. Informem-se nos lojistas sobre a constituição destes substractos e quais as medidas a tomar nos primeiros tempos de utilização. - Areão de rio: é um substracto inerte constituído por grãos de cascalho de rio que vão de uma granulometria reduzida como areia até uma granulometria exagerada de 1 cm ( não aconselhada para plantas). Pode ou não influenciar o pH da água. Se tiver carbonato de cálcio incrustado nos grãos, o mais certo é o nível de carbonatos aumentar e consequentemente, o pH aumentar ( o que não é aconselhado para as plantas). O seu custo reduzido e fácil acesso faz dele um razoável substracto para plantas pois tem a desvantagem de não ser poroso. No entanto, para aquários de baixa manutenção com musgos, fetos, anúbias entre outras plantas, é o suficiente. Convém ferver e lavar antes de colocar no aquário. - Laterita: é um substracto encontrado nos Trópicos que é bastante rico em ferro ( Fe) mas que é desprovido de outros nutrientes igualmente importantes. O ferro oxidado ( Fe3) pode ser convertido na forma em que as plantas o usam ( Fe2) através da introdução de um ácido orgânico no aquário. Isto pode ser conseguido à medida que o aquário amadurece ( através do aumento de amónia excretada pelos peixes) ou através da introdução de uma pequena quantidade de turfa. Para usar este material como substracto, deve-se colocar uma camada que tape apenas o fundo do aquário, pode-se juntar ou não um pouco de turfa e deve-se cobrir tudo com uma boa camada de argila em grãos ou areão de rio. Pode ser deitada directamente no aquário, desde que seja colocada no fundo do aquário. - Turfa: é um material orgânico extraído do solo. Contém, micronutrientes e macronutrientes e converte elementos como o Fe sob a forma usada pelas plantas, devido ao seu poder acidificante, causado pelo ácido húmico que liberta ( ideal para ser usado com Laterita). Desce o pH, a dureza carbonatada ( kH) e a dureza geral ( gH), favorecendo assim um bom crescimento das plantas. Aplicar uma ligeira camada no fundo do aquário, de modo a cobrir apenas o fundo, colocando por cima uma boa camada de substracto argiloso ou areão de rio. Pode ser deitada directamente no aquário, desde que seja colocada no fundo do aquário. - Argila: material de grão fino constituído por agregados de vários minerais e nutrientes que, a longo prazo, se desfazem e propiciam nutrientes às plantas. Argila granulada dá um excelente substracto para aquários plantados visto que se enquadra em todos os parâmetros acima descritos. Pode ser usado como substracto único ou em conjunto com outros materiais ja falados. Pode ser usado na camada inferior ou na camada superior do substracto. Não requer tratamento, a não ser uma leve lavagem com água para tirar o pó superficial. Pode também ser adicionada directamente. - Húmus tratado de minhoca: é um material orgânico composto por excrementos de minhoca, muito rico em nutrientes e que convém ser minuciosamente tratado antes de aplicar no aquário. Aplicar sempre no fundo com uma boa camada de substracto argiloso ou areão de rio pois, senão for bem isolado, a sua passagem para a coluna de água pode ter maus resultados. Em relação ao tratamento deste material, aqui fica um link para o tratamento do húmus: http://www.aquaonline.com.br/artigos/humus.php - Granulado NPK: é um granulado constituído por macronutrientes ( N- azoto; P- fósforo; K- potássio) que pode ser um aditivo à nossa combinação de materiais que vão ser o nosso substracto. Convém salientar que a escolha de um granulado NPK com as melhores proporções entre o N, P e K é de extrema importância para evitar altos níveis de fosfatos que, apesar de ser um macronutriente primário, é aquele que é preciso em menor quantidade e que é adicionado regularmente através da comida dos peixes ( ver tópico “ "Manutenção de plantas aquáticas - Parte I: Nutrientes"). Seguramente há mais tipos de materias que podem ser usados como substracto, independentes ou em conjunto com outros. No entanto os que aqui falei são os que considero mais importantes e mais comuns de usar. Dando um comentário pessoal, tenho utilizado nas minhas mais recentes montagens a combinação de turfa e granulado NPK no fundo, coberto com uma boa camada de granulado argiloso ( Akadama). Noto que as plantas estão muito mais saudáveis, apresentam cores mais vivas, crescimento vigoroso e necessito de fertilizar menos. O pH ao início ronda os 5.5 ( devido principalmente à turfa, se bem que o Akadama é ligeiramente ácido) mas com as trocas de água e após completar o ciclo do azoto ( leia-se, passado um mês), fico com o pH estável nos 6. Não se preocupem se o pH fica muito baixo ao início. O importante é que, quando introduzirem peixes, o pH permaneça entre os 6 e os 6.8 ( o ideal será o valor mínimo igual a 6.5 mas se for até 6 não há problema) estáveis. É importante não haver variações bruscas no pH aquando as trocas de água. As plantas não se ressentem mas os peixes sim. <span style='color:blue'>Substracto fértil: colocar ou não colocar</span> Por último, a pergunta que todos nós fazemos: “ Devo colocar um substracto fértil ou não?” A resposta é: “ Depende de cada um!” Depende daquilo que se está disposto a oferecer às plantas, do quanto se sabe sobre como manter plantas aquáticas, do experimentar para ver se resulta mesmo, do ter dinheiro para o fazer, etc. No caso de uma pessoa que não tenha conhecimentos suficientes ou que se está a iniciar em aquários plantados, o substracto fértil é sem dúvida uma mais valia pois permite-lhe dar um “ boost” inicial às plantas sem adição de fertilização líquida inicial. No caso do areão de rio, pelo contrário, a fertilização líquida ou colocação de pastilhas junto das raízes ( nesta última depende das plantas) teria de ser mais bem controlada desde a colocação das plantas no aquário, através da observação das plantas e estudo sobre as suas necessidades a um mais alto nível. Há também quem use os substractos férteis já tendo um grande conhecimento na manutenção de aquários plantados, apenas porque decidiram experimentar ou simplesmente preferem investir em algo que lhes dá bons resultados. No entanto, há que ter em conta que um substracto fértil vai-se esgotando com o tempo e, à medida que os meses passam e o crescimento das plantas se intensifica, estas exigem cada vez mais nutrientes que terão de ser repostos através da fertilização líquida. As quantidades de fertilizante líquido serão aumentadas com o passar do tempo ao contrário dos nutrientes no substracto que vão diminuindo, até ficarmos com um substracto não fértil ou apenas fertilizado com a matéria orgânica em decomposição gerada pelos peixes e plantas, e que pode não ser suficiente para as plantas que temos no aquário. Assim, fica ao critério de cada um qual o melhor substracto que se aplica ao seu aquário e que, independentemente da escolha que se faça, terá que se ter sempre em conta que as plantas são organismos vivos e como tal estão em constante mudança, cabendo-nos a nós saber quais as suas necessidades e satisfazê-las sempre que necessário. Para isso, a observação e pesquisa são cruciais na manutenção de plantas aquáticas. Para discussão sobre este tema ( dúvidas, ideias, correcções, etc), por favor façam-no aqui...
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