Miguel Figueiredo Publicado Setembro 18, 2005 Publicado Setembro 18, 2005 Rapaziada, Aqui vão dicas práticas para Aquários do Malawi... são conceitos que tenho interiorizado por experiencia ao longo dos anos: 1- O aquário Tamanho minimo: 400 litros (cerca de 1.5 m), ideal 600 litros ou superior. Ok, em 240 litros (1.2 m) também se conseguem manter malawis, evitando misturar grupos (mbunas com haplocromideos), escolhendo peixes relativamente pequenos e não muito agressivos, etc, etc, etc. Mas o risco de hibridos aumenta exponencialmente e não haverá espaço para vermos muitos dos machos com a coloração dominante. E para quê limitarmo-nos a um ou outro grupo? O Malawi é sobretudo atraente por causa da sua extraordinaria biodiversidade. São mais de 600 especies de ciclideos e cada uma delas pode apresentar várias populações, às vezes dezenas delas. São milhares de peixes distintos... Só o Malawi tem mais especies de ciclideos que todo o continente americano, da Argentina aos Estados Unidos! Com 600 litros já poderemos, com algum cuidado, misturar grupos e ter uma melhor amostra do que é realmente o Lago Niassa. 2- A água Nada que químicos especiais para aumentar o pH, na maior parte das regiões do país. Por vezes as misturas de sais e as flutuações que resultam delas são mais stressantes para os peixes que viver numa água com parâmetros diferentes dos óptimos. Se tem PH acima de 7.4 então borrife-se para misturar sais especiais na água. O máximo que eu faço é, em grandes mudas de água (de 50%), misturo um pouco de sal para aquários de água salgada, na proporção de uma colher de sopa para cada 20 litros. Estas grandes mudanças de água só as faço duas ou três vezes por ano. Uso o mesmo procedimento para todos os meus aquários, não só nos do Malawi. É um preventivo para algumas doenças e os peixes apreciam. 3- A decoração Convém ter divisórias de rocha rodeando zonas de areão ("arenas"). Se mantivermos outros ciclideos além de mbunas os buracos entre as rochas devem ter saidas: Ou seja, um peixe quando se mete neles deve poder sair do outro lado. Não podemos portanto encostar todas as pedras à parede de fundo, temos sempre que deixar saidas. Morreram-me bastantes aulonocaras e mesmo venustus presos nas rochas antes de eu compreender que buracos sem saida eram armadilhas mortais. É algo que nunca me aconteceu com mbunas. As rochas devem rodear em "U" invertido as arenas de aerão (a parte aberta do "U" fica voltada para a frente do aquário). As arenas demarcadas entre as rochas são usadas pelos peixes para reclamarem territórios. As rochas devem ser altas o suficiente para criar barreiras visuais, impedindo as perseguições intermináveis. As pedras devem acentar sobre uma placa de esferovite no fundo do aquário (por dentro). Essa placa é depois coberta por areão. Cuidado com as derrocadas: acente as pedras umas sobre as outras de forma segura. Se queremos mesmo acentar a rocha B sobre a rocha A mas a rocha B fica instável então fazemos com o berbequim um furo em ambas as rochas no ponto de união, colocamos uma bucha rija untada de silicone e unimos as pedras. Deixamos a silicone secar durante 24 horas. Geralmente a silicone por sí só não resulta bem para segurar as pedras: apanha apenas uma camada superficial que acaba por descolar com o tempo. Fazendo buracos e usando buchas com silicone podemos criar estruturas perfeitamente seguras. As rochas podem pesar MUITO, mesmo com esferovite no fundo nada de exageros, o vidro pode estalar. Use as rochas sobretudo como parede, dividindo as arenas. Não faça uma acumulação interminável de calhaus. 4- As comidas Ervilhas cozidas são óptimas, espinafre cozido é óptimo, camarão cozido é óptimo, mexilhão cozido é bom. Convem que o alimento verde seja mais que o camarão ou mexilhão. Para que a comida não suje muito a água deve-se migar em grandes bocados: Eu primeiro carrego uma ou duas vezes no botão da picadora depois passo por água, num escoador de buracos relativamente largos. O que fica guardo no congelador para alimentar os adultos. O que passou volto a passar por água numa rede mais fina e também congelo, para alimentar os juvenis. Alterno dia sim dia não com granulado para ciclideos da Nutrafin. Às vezes acaba-se a comida congelada e passo dias e dias a alimentá-los apenas com granulado. Uso o granulado da Nutrafin há anos. Por vezes tenho experimentado outros. A ultima vez que o fiz morreram-me quatro ou cinco peixes. Moral da historia: se uma coisa funciona para si em aquariofilia então optimo, não mude. O granulado da Nutrafin tem o problema de inchar com a água. Em tempos molhava-o primeiro em água durante alguns minutos antes de o dar aos peixes. Há anos que me deixei disso. Vai como está, os incubadores bocais têm o habito de guardar esta comida no saco bocal e depois vão engolindo-a nas calmas. Pouco depois de os alimentar, todos peixes parecem ter ovos na boca, incluindo os machos. Só dou comer aos peixes uma vez por dia e sempre pouco. O Malawi é um habitat relativamente pobre em alimento, lá os peixes estão acostumados a comer pouco. Penso que a vida curta que alguns espécimens apresentam poderá estar relacionada com comida em excesso. No meu caso, os Malawi mais antigos que mantenho são um casal de Maylandia estherae com 5 anos e ainda em reprodução. 4- Os peixes O Lago Niassa é um mundo mas o nosso aquário nem por isso. I- A primeira preocupação deve ser que os peixes não se matem uns aos outros Não misturar espécies muito agressivas com espécies muito pouco agressivas. REcordo que o tamanho MÍNIMO de aquário que eu aconselho são 400 litros. Se tem muito mais espaço que isso então não se preocupe: a partir de 2.5 m e de 800 litros apenas há que evitar os predadores MUITO GRANDES. Por motivos óbvios. Espécies muito agressivas são geralmente os Melanochromis e alguns outros peixes de "formato desportivo", incluindo o grupo dos Pseudotropheus elongatus. (Nem todos, os ornatus não são muito agressivos). II- A segunda preocupação deve ser a de evitar hibridos - Não misturar peixes de populações diferentes da mesma especie: Por exemplo, um Maylandia zebra "Chilumba" com um Maylandia zebra "Nkhata Bay" - Não misturar peixes parecidos, por exemplo: Os Labeotropheus, incluindo o trewavasae e fuelleborni Peixes do complexo "zebra" Peixes do complexo "tropheops" Aulonocaras Muitos dos Copadichromis Etc. - Manter sempre um grupo para cada espécie, entre 5 e 8 elementos, com machos e fêmeas. Os machos devem ter espaço para criarem territórios. Se isso não acontecer retirar a especie (ou retirar uma das especies mais dominantes). III -A terceira preocupação deve ser a estética: conseguir um equilibro de cor. Acontece com frequencia um dado aquariofilista gostar sobretudo de peixes azuis e acabar por manter quase tudo azul: fryeri, azureus, Aulocanaras stuartgranti, demasoni e até mesmo as populações azuis de Labeotropheus trewavasae... Outros perferem os peixes listados e é um ver se te avias com Maylandia zebras, Cynotilapias e Pseudotropheus a montes. Outros ainda perferem os peixes amarelos... No meu caso tive um grave problema com peixes muito escuros, a tal ponto que parecia faltar a luz no aquário... tive que apostar em callainos, saulosi e outros peixes claros para repor o equilibrio mas ainda hoje mantenho um tom geral demasiado escuro. Para tornar o aquário esteticamente atractivo e interessante de observar convém assim escolhermos peixes diferenciados: em termos de cor, padrões, formato e mesmo comportamento (se tivermos espaço para isso). Há uma cor que é rara nos malawi: O vermelho. Podemos obtê-lo indo buscar uma espécie ao Victoria (muitos Haplochromis são vermelhos) ou podemos obtê-lo indo buscar uma espécie à áfrica ocidental: os peixes-joia. 5- A filtragem Quanto mais melhor. Os ciclideos do Malawi são peixes que precisam de MUITA filtragem, em especial de filtragem biológica. Há quem diga, com razão, que o sucesso em aquários do Malawi está dependente da filtragem. Arranje o melhor sistema de filtragem que puder pagar ou que conseguir fazer. 6- A manutenção Mudanças de água quinzenais: nunca mais de um quarto da água: Por vezes a água da torneira apresenta adictivos estranhos e, após uma mudança de água já me tem acontecido ter varias mortes, afectanto apenas uma ou duas especies. Mudando só um quarto da água estamos mais protegidos. 7- A temperatura Se queremos reproduzir ou fazer os peixes jovens crescer então 27-28 C, se queremos que os peixes durem mais que um ano ou dois então 23-24 C. Eu faço um ciclo de verão e outro de inverno. De verão a temperatura chega aos 27, mesmo sem aquecimento, de inverno fica-se pelos 21, mesmo com aquecimento. Os meus peixes praticamente não se reproduzem de inverno mas passam o verão inteiro com a boca cheia. Espero que estas dicas ajudem. Miguel 1
Tripeiro Publicado: Setembro 18, 2005 Publicado: Setembro 18, 2005 Embora discorde pontualmente num ou noutro aspecto, este parece-me um tópico bastante interessante e com dicas básicas para kem se ker iniciar nos ciclídeos dos lagos africanos. Bom trabalho!
Bruno Nogueira Publicado: Setembro 18, 2005 Publicado: Setembro 18, 2005 Eu também achei muito interessante. Acho que era bom por esta informação, ou informação deste género como "Inamovivel", como as fichas dos peixes. Parece-me que tem logo á partida a resposta para muitas perguntas comuns. Fiquem bem. Bruno Nogueira
João Magalhães Publicado: Setembro 18, 2005 Publicado: Setembro 18, 2005 Miguel, excelente artigo. Com artigos destes quem é que precisa de livros Relativamente à tua citação "No meu caso, os Malawi mais antigos que mantenho são um casal de Maylandia estherae com 5 anos e ainda em reprodução", no meu caso o peixe mais velho que tive foi um casal de Labeotropheus fuelleborni, que com sete anos de idade ainda se reproduzia. O macho morreu quando mudei de casa. Nesta mudança perdi uns 20 peixes, o stress foi elevadíssimo para eles. cumps João Magalhães APC #45 http://joalmag.blogspot.com/
Miguel Figueiredo Publicado: Setembro 18, 2005 Autor Publicado: Setembro 18, 2005 o peixe mais velho que tive foi um casal de Labeotropheus fuelleborni, que com sete anos de idade ainda se reproduzia Ena, é o que se chama... sexo oral na terceira idade
Pedro Figueiredo Publicado: Setembro 19, 2005 Publicado: Setembro 19, 2005 Também acho que este tópico é de grande utilidade, não sei é se é o sitio ideal para colocar perguntas... Se não for as minhas desculpas... mas cá vai: As pedras devem acentar sobre uma placa de esferovite no fundo do aquário (por dentro). Essa placa é depois coberta por areão. Este é um assunto que me anda a preocupar.... Penso que o objectivo desta placa é para as pedras não riscarem o vidro, mas os peixes ao escavar não vão chegar ao esferovite? E depois não o vão "trincar"? O peso das pedras realmente pode ser muito... o que é que se pode fazer para proteger o vidro de baixo? Colocar mais uma placa de esferovite entre o móvel e o aquário ajuda? Tks. Hasta Pedro Figueiredo (ex - Down) [url="http://www.ciclideos.com/forum"][img]http://www.ciclideos.com/forum/barbatana/banner_forum1.png[/img][/url]
Nuno Antunes Publicado: Setembro 19, 2005 Publicado: Setembro 19, 2005 Este é um assunto que me anda a preocupar.... Penso que o objectivo desta placa é para as pedras não riscarem o vidro, mas os peixes ao escavar não vão chegar ao esferovite? E depois não o vão "trincar"? O peso das pedras realmente pode ser muito... o que é que se pode fazer para proteger o vidro de baixo? Colocar mais uma placa de esferovite entre o móvel e o aquário ajuda? O objectivo da placa interior de esferovite é evitar que no caso de uma derrocada de pedras uma pedra bata em seco no vidro do fundo, rachando-o. Já o esferovite debaixo do aquário tem como objectivo fornecer uma superficie totalmente plana e de alguma forma amortecer vibrações que podem colocar em risco a integridade do aquário, ao mesmo tempo que fornece uma camada isolante térmica. Duas camadas de esferovite farão em principio tanto efeito como apenas uma. Para aquários muito grandes penso que o ideal é não usar pedras mas sim fundos em cimento, isto porque as pedras irão acrescentar muito peso a um conjunto já de si bastante pesado. O fundo em cimento, além de ser uma aposta válida, é mais leve e acaba por roubar alguns litros de água contribuindo dessa forma para um menor peso total. Além disso torna-se mais fácil para caçar os peixes. Nuno Antunes Mantenho: Tropheus brichardi ujiji "Katonga" Tropheus moorii Lufubu Apistogramma hongsloi
Rui Costa Publicado: Setembro 19, 2005 Publicado: Setembro 19, 2005 Olá Miguel e muitos parabéns pelo excelente artigo. Seria possivel informar um link ou editar algumas fotos do aquário e das espécies para eu ver? Como sou recente nestas andanças gostava muito de poder admirar o aquário em questão. Cumprimentos
Miguel Figueiredo Publicado: Setembro 19, 2005 Autor Publicado: Setembro 19, 2005 Este é um assunto que me anda a preocupar.... Penso que o objectivo desta placa é para as pedras não riscarem o vidro, mas os peixes ao escavar não vão chegar ao esferovite? E depois não o vão "trincar"? O esferovite é onde acentam as pedras. Distribui o peso destas pelo fundo evitando que se concentre em determinado ponto. Esses pontos de apoio das pedras podem quebrar o fundo. O areão também distribui o peso das pedras mas é uma base instável. Com as escavações as pedras vão-se deslocando. Imagina que tens um aquário de 600 litros: são 600 kg de água que estão acentes sobre o vidro de fundo, mas estão distribuidos por todo o vidro. Agora se somares as pedras e o areão podem ser mais umas centenas de quilos. Se o peso estiver muito concentrado em deteminados pontos do fundo então podes ter um problema. Nunca vi nenhum peixe a escavar no esferovite mas não é impossivel, há peixes para tudo... O esferovite, claro, também impede que uma pedra ao cair dê cabo do fundo. Miguel
Miguel Figueiredo Publicado: Setembro 19, 2005 Autor Publicado: Setembro 19, 2005 Para aquários muito grandes penso que o ideal é não usar pedras mas sim fundos em cimento, isto porque as pedras irão acrescentar muito peso a um conjunto já de si bastante pesado. Penso que tens razão mas não sei fazer fundos desses. Espero experimentá-lo um dia. Miguel
Miguel Figueiredo Publicado: Setembro 19, 2005 Autor Publicado: Setembro 19, 2005 Seria possivel informar um link ou editar algumas fotos do aquário e das espécies para eu ver? Bom, o artigo era genérico mas um aquário onde apliquei essas dicas foi este: http://208.17.150.221/apc/andapa.wmv Na altura do filme estava a ser usado numa tentativa de reprodução de paratilapias, depois foi dedicado a Malawi. Imagens dos peixes... talvez as fotos tiradas pelo Delfim: http://galerias.escritacomluz.com/dbcm/APC1 Miguel
RicardoBC Publicado: Setembro 29, 2005 Publicado: Setembro 29, 2005 Estou simplesmente babado com isto... Eu que estava a pensar fazer ciclideos do Tanganika, estou na pura das indecisões. Digo eu que este sub-forum merecia um topico do genero mas para o Lago Tanganika, o que acham? Nao sei se o Miguel Fiqueiredo tem conhecimentos sobre esse lago, mas acho deve existir muita gente com capacidade para fazer um topico como este, ou então o Miguel Fiqueiredo. É a minha opinião. Cumprimentos, Cumprimentos, Ricardo Borges Carpinteiro APC #130
aquaben Publicado: Outubro 16, 2005 Publicado: Outubro 16, 2005 Boas,Miguel Só agora reparei neste tópico, 5* nada de grandes técnicas ou truques, sem dúvida que desmistificaste a coisa. Parabéns. Já agora vou aproveitar para dar um toque ao RicardoBC. Tudo o que o Miguel descreveu no seu artigo, se aplica ao aquário do Tanganica, mas em relação aos ciclideos do Tanganica, consegue-se manter um maior número de espécie num aquário de 600litros, claro está que não se pode meter no mesmo aquário espécies semelhantes ou populações diferente da mesma espécie. Apesar da hibridação inter-espécies ser pouco provável, vai ser muito difícil a sua coabitação. Fiquem Bem José Bentes APC"134"; APK "214" http://sites.google.com/site/aquabenfriends/home
EDUARDO FERNANDES Publicado: Janeiro 4, 2006 Publicado: Janeiro 4, 2006 Muito, muito fixe Cumprimentos aquariófilos
Luís Araújo Publicado: Janeiro 4, 2006 Publicado: Janeiro 4, 2006 Boas, Também achei o artigo muito interessante... É claro que o tamanho mínimo de 400 L me parece esticar um bocado a corda, mas eu até concordo.. Já não concordo é que quem defende um tamanho mínimo de 600 L porque é difícil ter os peixes com o seu comportamento natural num aqua de 240L, os defenda na base de que assim se torna possível misturar peixes omnívoros, carnívoros e vegetarianos.. Ora não me parece que por maior que seja o aqua se possam criar zonas, tipo cafés de "fumadores", "não-fumadores" na hora da chicha.. Além disso , mesmo em 1000L que sejam o comportamento de aulonocaras na presença de mbunas nunca será o mais natura, pois naturalmente não ocupam os mesmos habitats, embora seja possível tentar recriar esses ambientes.... NO entanto, com a escolha certa de espécies todos sabemos que se pode criar uma "comunidade" pacífica e saudável.. De resto parece-me um excelente artigo, e depois de ter as fotos do aquário que inspira este artigo, devo dizer que é o aquário mais bonito que já vi de CA's, pelo que estas dicas devem funcionar na perfeição...... Parabéns, e um abraço Luís Araújo
RisingSun Publicado: Janeiro 7, 2008 Publicado: Janeiro 7, 2008 Excelente. Concordo com tudo. Bom Trabalho! Ciclideos do Malawi Forever! The colour of the water!
Guilherme_Guila Publicado: Janeiro 16, 2008 Publicado: Janeiro 16, 2008 Boa Miguel, muito bom o tutorial! []'s
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